Um único
projeto comunitário de rastreio testou mais de um terço de homossexuais
recentemente diagnosticados com VIH em Barcelona, Espanha, e conseguiu
referenciar quase todo os recém-diagnosticados aos serviços de saúde, de acordo
com a apresentação realizada na 7ª Conferência Internacional da IAS pelos
coordenadores do projeto, na passada segunda-feira.
O Checkpoint
BCN iniciou a sua atividades em 2006 e foi um dos primeiros projetos
comunitários de rastreio dirigido especificamente a homossexuais na Europa. Os
testes rápidos são realizados por voluntários leigos (não médicos) e por uma
equipa e o projeto situa-se no bairro gay de Barcelona com um horário de
abertura até às 20h.
Entre 2009 3
2011, este único projeto diagnosticou 36,6% de todos os homens que têm sexo com
homens (HSH) diagnosticados com VIH na Catalunha.
Embora o
serviço ofereça rastreio rápido de sífilis e vacinação para a hepatite A e B em
conjunto com o rastreio de VIH, não efetua o rastreio de gonorreia e clamídia.
Durante o aconselhamento entre pares é reforçada uma atitude positiva em
relação à atividade sexual.
Os dados
sobre prevalência da infeção pelo VIH em Barcelona são limitados, mas quando
foram recrutados 388 homens em bares, clubes e saunas gay em 2009, 17% eram
seropositivos e destes apenas 55,4% o sabiam.
Em Espanha,
o rastreio da infeção pelo VIH é, em regra, realizado nos cuidados de saúde
primários, contudo nem todos os médicos de família têm experiência ou sentem-se
confortáveis a lidar com os assuntos relacionados com a saúde sexual dos
homossexuais. Barcelona tem também uma clínica de infeções sexualmente
transmissíveis como parte integrante do serviço de saúde. O estudo pan europeu,
EMIS, reportou que embora a percentagem de rastreio seja relativamente elevada
em Espanha (44% nos últimos 12 meses e 74% alguma vez na vida), 14% dos gays
acham que o rastreio do VIH é de difícil acesso ou dispendioso e 33% dos homens
recentemente testados afirmaram que não tinham tido oportunidade de falar sobre
sexo durante a sessão de rastreio. Estes valores são baixos quando comparados
com outros países da Europa ocidental.
O Checkpoint
BCN apresentou dados de 14 949 testes realizados entre 2009 e 2012. O número
anual de testes aumentou de 2 483 para 5 051 no período de quatro anos.
Anualmente, cerca de 1 700 homens vieram testar-se pela primeira vez, assim
como um número crescente de homens repetiram o rastreio (os homens são
incentivados a repetir o rastreio do VIH cada 6 ou 12 meses).
O projeto
atinge homens em alto risco de infeção, tendo sido diagnosticados 509 infeções
pelo VIH no período de 4 anos. A percentagem de clientes diagnosticados foi de
5,1% em 2009, 4,4% em 2010, 4,1% em 2011 e 3,4% em 2012.
A
percentagem de positividade tem vindo a descer ligeiramente o que pode revelar
que os homens que repetem o teste estarão provavelmente em menor risco que os
que se testam pela primeira vez. Ao analisar apenas os homens que se testam
pela primeira vez no Checkpoint BCN, verificou-se que 5,3% e 5,7% são
diagnosticados com VIH anualmente.
Entre 2009 e
2011, só este serviço diagnosticou 36,6% de todos os homens que têm sexo com
homens diagnosticados com VIH na Catalunha (uma comunidade autónoma com 7
milhões e meio de habitantes).
Embora os
projetos comunitários de outras regiões reportem com frequência taxas de
diagnósticos mais elevadas que os outros serviços, existe sempre a preocupação
da referenciação aos cuidados de saúde. Esta preocupação baseia-se no facto de
que os testes comunitários estão com frequência geográfica e institucionalmente
separados dos serviços médicos dedicados às pessoas com VIH e porque podem
alcançar pessoas que têm acesso limitado aos serviços de saúde, teme-se que
poucas pessoas recentemente diagnosticadas sejam referenciadas a esses serviços
de saúde. Para além disso, os dados sobre este passo essencial na cascada do
tratamento são frequentemente omissos.
No
Checkpoint BCN, aos homens que têm um teste reativo para o VIH é efetuada uma
recolha de sangue para um teste de confirmação que é efetuado num laboratório
do bairro e o resultado demora apenas alguns dias.
Além disso,
é disponibilizado imediatamente apoio entre pares por parte da equipa ou de um
voluntário seropositivo. O projeto encarrega-se de agendar uma consulta da
especialidade e se necessário presta apoio nos aspetos burocráticos
relacionados com o acesso aos cuidados de saúde públicos. É frequente manter
contacto contínuo com os novos diagnosticados que recebem apoio psicossocial e
informação sobre tratamentos.
O projeto
reportou que 90,5% dos novos diagnosticados foram referenciados aos cuidados de
saúde. Dos restantes:
- 3.4% preferiram escolher por
eles a referenciação à consulta.
- 3.7% voltaram ao país de origem.
- 2.4%
não aceitaram a referenciação.
A
referenciação em cerca de metade dos homens ocorreu nas duas primeiras semanas.
Apenas em 15% dos casos este processo demorou mais de um mês.
Os autores
concluem que este modelo de intervenção é altamente eficaz na deteção da
infeção pelo VIH e na referenciação aos cuidados de saúde.