Segundo investigação dos EUA
publicada na Journal of Infectious
Diseases, a prevalência e incidência anal do vírus do papiloma humano (HPV)
é alta entre os homens homossexuais jovens. A prevalência total da infeção por
HPV foi de 70% e o HPV 16 e/ou 18 – os tipos de HPV mais associados ao cancro
anal – foram detetados em 37% dos participantes do estudo. Os investigadores
acreditam que a sua investigação demonstrou a importância de vacinar os homens
homossexuais jovens antes de estes se tornarem sexualmente ativos. Contudo,
nenhum dos homens estava infetado com os quatro tipos de HPV cobertos para
vacina quadrivalente Gardasil®,
mostrando portanto que a imunização ainda valeria a pena para os homens
homossexuais jovens sexualmente ativos.
“Os nossos resultados evidenciaram
a necessidade de imunizar os HSHJ [homens que têm sexo com homens jovens] antes
do início da atividade sexual, algo que provavelmente iria requerer a
imunização universal masculina”, escreveram os autores. “Entretanto, o facto da
maioria dos HSHJ parecer manter-se suscetível a alguns tipos de HPV incluídos
na vacina, esquemas tardios de imunização dos HSHJ trazem algum benefício.”
As taxas de cancro anal são mais
elevadas entre homens homossexuais do que em outros grupos. O cancro está
associado à infeção persistente com tipos de HPV de alto risco. A Gardasil® fornece alta proteção contra
os dois tipos mais associados ao cancro (16 e 18). Nos EUA, a imunização com
esta vacina, é atualmente recomendada para todos os homens com idades entre os
11 e os 21 anos e para todos os homens que têm sexo com homens até aos 26 anos
de idade.
Apesar destas recomendações, pouco
é atualmente conhecido sobre a prevalência e incidência da infeção anal pelo
HPV entre os homens homossexuais jovens. Deste modo, investigadores em Seattle
realizaram um estudo prospetivo durante um ano, envolvendo 94 homens
homossexuais com idades entre os 16 e 30 anos. Estes participantes realizaram
esfregaços anais à partida, e novamente passados seis e doze meses, para
detetar a infeção pelo HPV e os tipos de HPV. Os autores também procuraram por
fatores associados à infeção pelo HPV e os conhecimentos sobre o HPV e
vacinação contra o HPV. Pretendiam obter resultados que orientassem as
estratégias de vacinação. A maioria dos homens era caucasiana (60%) e a mediana
das idades era de 21 anos. Quase todos os participantes relataram uma história
de pelo menos um episódio de sexo anal insertivo (88%) e sexo anal recetivo
(92%). A mediana da idade da primeira penetração anal com outro homem foi de 18
anos. A mediana do número de parceiros, ao longo da vida, insertivos foi de
dois e a mediana do número de parceiros recetivos foi de três.
No total, 70% dos homens tiveram a
infeção anal pelo HPV detetada, nalgum momento, durante o estudo. O HPV 16 foi
o tipo com a maior prevalência (28%). Entre os homens que não tinham infeção
pelo HPV à partida, a incidência da nova infeção anal pelo HPV foi de 39 por
1000 pessoas/mês.
As infeções por HPV 16 e/ou 18
foram detetadas em 37% dos homens no decurso do estudo com uma incidência de 15
por 1000 pessoas/mês.
Aproximadamente um quinto dos
participantes (19%) apresentava infeção persistente pelo HPV 16 ou18, com a
mesma estirpe detetada em esfregaços consecutivos.
Metade do total de participantes
teve pelo menos uma das estirpes cobertas pela Gardasil® detetadas nalgum
momento durante o estudo. Contudo, nenhum participante testado foi positivo
para os quatro tipos e apenas 3% tiveram evidência de adquirir o HPV 16 e 18,
ao mesmo tempo, durante o seguimento.
Um total de 48 homens com qualquer
infeção prevalente pelo HPV providenciou dois ou mais esfregaços. A maioria
destes homens (81%) negativaram para um ou mais tipos de HPV durante o
seguimento. Metade dos 18 homens com HPV 16 negativaram, tal como 67% daqueles
com HPV 18. A prevalência da infeção pelo HPV, incluindo os tipos de alto
risco, aumentou quando se verificou um número mais elevado de parceiros sexuais
anais masculinos. Entre os homens que referiram à entrada no estudo um parceiro
sexual ao longo da vida, 35% tinham infeção pelo HPV e 6% estavam infetados
pelo HPV 16 e/ou 18. Entre os homens com dois ou mais parceiros sexuais, havia
uma prevalência de 35% da infeção anal pelo HPV 16 e/ou 18.
Para cada parceiro adicional nos
três meses anteriores, o risco da prevalência da infeção aumentou um quarto
(OR=1.24; IC 95%, 1.00-1.57) e a probabilidade de infeção incidente por um
terço (OR=1.32; IC 95%, 1.03-1.70).
Os participantes tinham um
razoável conhecimento sobre a infeção por HPV, com 76% dos homens a referir que
tinham ouvido falar desta infeção. Contudo, apenas 34% sabiam que era a causa
do cancro anal e 6% identificaram corretamente o vírus como uma causa de cancro
oral e laríngeo.
Aproximadamente três quartos dos
participantes tinham ouvido falar da Gardasil®. Os investigadores explicaram o
esquema vacinal, efeitos secundários e a eficácia aos participantes, após a
qual 93% dos homens referiram estar algo ou muito interessados na vacina se
estivesse disponível gratuitamente.
“Observámos uma prevalência e
incidência elevadas da infeção anal pelo HPV,” comentam os autores, “A infeção
por HPV 16 e/ou 18, as duas estirpes que causam a maioria dos cancros anais,
foi detetada em mais de um terço dos participantes do estudo pelo menos uma vez
no seguimento durante um ano, e quase 20% do total de HSHJ no nosso estudo
tiveram evidência de infeção persistente com uma ou duas estirpes.”
Os investigadores acreditam que os
seus resultados têm implicações nas estratégias de vacinação para o HPV: “Dada
a elevada prevalência da infeção pelo HPV entre os HSHJ, muitos (se não a
maioria) foram expostos à infeção por um dos seus primeiros parceiros, um
achado que evidencia a necessidade de imunização dos HSHJ antes de se tornarem
sexualmente ativos.”
Ainda assim, eles também acreditam
que os homens que são sexualmente ativos também
beneficiariam da vacinação.