Apenas a um quarto dos homens gay que
tiveram sexo desprotegido foi disponibilizado e aceite uma intervenção estruturada
(como por exemplo, entrevista motivacional e aconselhamento) quando se
dirigiram à sua clínica de saúde sexual, segundo uma auditoria publicada esta
semana na edição online Sexually
Transmitted Infections.
Os autores recomendam que as razões porque
estas intervenções não são disponibilizadas aos homens em maior risco de
infeção pelo VIH devem ser investigadas e dirigidas. Acrescentam ainda que os
profissionais precisam de um melhor conhecimento da aceitabilidade destas
intervenções para os potenciais participantes.
Uma das primeiras
orientações de saúde pública, emitidas pelo National Institute for Health and Clinical
Excellence (NICE), em 2007, foi que os profissionais de saúde deveriam
disponibilizar uma conversa estruturada sobre redução de riscos a pessoas em
situação de elevado risco de contrair infeções sexualmente transmissíveis
(IST), incluindo os homens que têm sexo com homens. Estas discussões de
um-para-um deveriam ser estruturadas com base nas teorias de mudança
comportamental, e deveriam abordar fatores que pudessem ajudar a reduzir o
risco e a melhorar a autoeficácia e motivação. As sessões – que podem ser mais
do que uma – devem demorar pelo menos 15 a 20 minutos.
De forma semelhante, as recentes orientações
para sexo mais seguro da British
Association for Sexual Health and HIV (BASHH) e da British HIV Association (BHIVA) recomendam que a intervenção (15-20
minutos) baseada na evidência de alteração comportamental focada na aquisição
de competências, comunicação e aumento motivacional para a adoção de
comportamentos seguros, usando técnicas como a entrevista motivacional, devem
ser rotineiramente disponibilizadas às pessoas em elevado risco de infeção pelo
VIH. As técnicas de entrevista motivacional devem ser usadas como parte
intensiva de formação sobre aconselhamento na redução de risco para os homens
gay em risco de infeção pelo VIH.
Em conformidade com as orientações, foi conduzida
uma avaliação em 15 das maiores clínicas de saúde sexual em Inglaterra. Para
cada, foram analisadas observações de 40 homens gay e bissexuais que frequentaram
as clínicas em junho de 2010, com um total de 598 observações disponíveis. Os
homens diagnosticados com infeção pelo VIH foram excluídos.
A média de idades foi de 34 anos e três
quartos eram caucasianos. Um terço dos homens reportou ter reações sexuais
anais desprotegidas nos seis meses anteriores.
O teste para o VIH foi disponibilizado a quase
todos os homens (92%), em linha com as orientações, e quase todos os homens
aceitaram (92%). Nos doze meses de acompanhamento, 43% dos homens fizeram o
teste pelo menos mais uma vez.
Quatro em dez doentes (251) receberam
intervenção comportamental, mas frequentemente tal resumiu-se a um aconselhamento.
Pouco menos de um em dez (51) teve uma intervenção comportamental estruturada
tal como recomendado pelo NICE.
As intervenções disponibilizadas foram
aconselhamento (37 homens), entrevista motivacional (14 homens), terapia
cognitiva comportamental (2 homens) e educação de pares (2 homens).
Apesar de os homens que reportaram relações
sexuais anais desprotegidas nos seis meses anteriores terem maior probabilidade
de lhes ser proposto e aceitar a intervenção do que os homens que não
reportaram, a adesão permaneceu baixa.
As observações não tinham dados sobre as
recusas, mas foi registado que 42 homens a quem foi proposto a intervenção,
recusaram, incluindo o aconselhamento. Destes, três homens afirmaram que não
tinham tempo e 17 que não precisavam (dos quais seis reportaram relações
sexuais desprotegidas).
Os autores discutiram possíveis razões
para o número limitado de homens a quem são propostas intervenções
estruturadas. Tais podem incluir recursos limitados, falta de formação e
orientações a serem apenas publicadas há relativamente pouco tempo. Acrescentam
que, enquanto as intervenções têm um relativo e modesto impacto, requerem
esforço intensivo e devem ser disponibilizadas em combinação com outras
estratégias.
A auditoria tem ainda informação sobre
como as clínicas definem quais os homens que estão em maior risco de contrair a
infeção pelo VIH. Tal é relevante uma vez que as orientações recomendam a forma
como as avaliações de risco são realizadas.
Com base na análise de políticas em 24 clínicas, parece haver uma grande
variedade. Quatro clínicas consideram que todos os homens que têm sexo com
homens, per se, estão em elevado
risco. Duas clínicas não tinham critérios, enquanto 18 tinham em conta um misto
de razões, relações sexuais desprotegidas (17 clínicas), ter um parceiro
seropositivo para a infeção pelo VIH (14), IST prévia (13), problemas com
consumo de drogas e álcool (12), número de parceiros (8) e tratamento com PPE
prévio (7). Os autores comentam que as clínicas de saúde sexual no Reino Unido
precisam de uma ferramenta de avaliação do risco padronizada, que possa ser
usada para intensificar intervenções nos homens em elevado risco.