Iniciar a terapêutica antirretroviral com contagem de células CD4 superior a 500 reduz o reservatório de VIH em pessoas com doença prolongada

As pessoas que iniciem mais cedo a terapêutica antirretroviral podem ter uma maior possibilidade de, no futuro, controlar a infeção pelo VIH sem necessidade de medicação, afirmam os investigadores franceses.

Dr Laurent Hocqueloux of Orléans Hospital in France speaking at IAS 2013. Photo ©International AIDS Society/Marcus Rose/Workers' Photos.
Keith Alcorn
Published: 10 July 2013

As pessoas seropositivas para o VIH que iniciem terapêutica com contagem de células CD4 superior a 500/mm3, uma vez terminado o período de primo infeção, têm uma maior probabilidade de ter uma redução substancial do reservatório de células infetadas pelo VIH no organismo, tornando-se fortes candidatos a futuras investigações acerca do controlo da infeção sem necessidade de terapêutica, afirmam os investigadores franceses na 7ª Conferência da Internacional da AIDS Society sobre a Patogénese do VIH, Tratamento e Prevenção (IAS 2013) em Kuala Lumpur, Malásia.

O grupo francês concluiu que as pessoas seropositivas para o VIH que iniciem o tratamento com contagem de células CD4 superior a 500/mm3 tinham uma probabilidade 56 vezes superior de ter uma normalização da função imunitária e uma redução do ADN do VIH para níveis inferiores quando comparados com os das pessoas que iniciaram o tratamento com contagem de células CD4 mais baixas.

“Se (estes resultados) forem reproduzidos, deveremos tratar os doentes com contagem de células CD4 acima de 500/mm3.” Laurent Hocqueloux

O nível do ADN do VIH nas células do sistema imunitário do sangue das pessoas seropositivas é uma forma importante de medir a quantidade do ADN viral integrado nas células, prestes a iniciar uma nova replicação viral se a terapêutica antirretroviral for interrompida. Os cientistas pensam que reduzir a dimensão deste reservatório é um passo essencial no controlo do VIH sem recurso a terapêutica.

O estudo, conduzido pelo Dr. Laurent Houcqueloux do Hospital Orléan, em França, calculou as quantidades de ADN do VIH, a normalização da contagem de células CD4 e o rácio CD4/CD8 nas pessoas que iniciaram terapêutica antirretroviral após a infeção primária. O estudo tinha como objetivo determinar se existia alguma diferença na probabilidade de normalização da função imune e redução dos níveis do ADN do VIH em circulação nas PBMC (células mononucleares do sangue periférifco) de acordo com contagem de células CD4 realizada antes do início da terapêutica – contagem de “nadir” de células CD4 (mais baixa de sempre).

Embora se saiba que as pessoas que iniciam terapêutica antirretroviral com uma contagem de células CD4 superior a 500/mm3 têm maior probabilidade de atingir uma contagem dentro dos níveis normais (neste estudo compreendidos entre 900-1000 células/mm3), estudos realizados em pessoas tratadas na infeção crónica não resultaram em evidência de uma redução substancial de ADN do VIH (reservatório do VIH entre as células) ao longo do tempo.

Estes estudos não analisaram detalhadamente a probabilidade de redução dos níveis do ADN do VIH durante a toma da terapêutica antirretroviral de acordo com contagem de células CD4 aquando do início do tratamento e muito menos em estudos coorte com um grande número de doentes.

Entre 2005 e 2009, o estudo de Orléans recrutou 309 pessoas sob terapêutica antirretroviral com carga viral abaixo de 50 cópias/ml e acompanhou-as em média durante 3,7 anos (num total de 1407 doentes/anos de acompanhamento). Foram recolhidas 1500 medições do ADN do VIH, com uma contagem por ano a cada doente, mas os níveis do ADN do VIH antes do início da terapêutica só puderam ser medidos em 25% dos casos.

Dos 309 doentes que participaram no estudo, 30 tinham contagem inicial de células CD4 acima de 500/mm3, 155 contagem entre 200 e 499 células/mm3 e 124 abaixo de 200/mm3. Os doentes com contagens de células CD4 abaixo de 200/mm3 tinham uma maior probabilidade de já terem tido doenças relacionadas com SIDA e carga viral mais alta aquando do início da terapêutica (um registo de 5,3 versus 4,6 cópias/ml naqueles com contagem inicial de células CD4 superiores a 500/mm3). Não existiram diferenças no tipo de tratamento recebido; entre 44 - 47% de cada braço do estudo recebeu terapêutica antirretroviral baseada em inibidores da protease.

Os investigadores observaram que uma limitação na análise era a duração do acompanhamento de diferentes estratos de células CD4. Enquanto as pessoas que iniciavam a terapêutica com contagem de células CD4 inferiores a 200/mm3 tinham um acompanhamento médio de 4,6 anos sob tratamento com carga viral abaixo das 50 cópias/ml, aqueles que iniciaram o tratamento com contagens de células CD4 superiores a 500/mm3 tiveram uma média de apenas 2 anos de acompanhamento com carga viral abaixo das 50 cópias/ml.

O resultado primário do estudo foi uma comparação com a proporção de participantes que durante a terapêutica alcançaram:

  • Uma contagem de células CD4 normal (superior a 900 células/mm3)
  • Um rácio de células CD4/CD8 normal (>1)
  • Um baixo nível do ADN do VIH (< 2,3 cópias por milhão de PBMC)

A avaliação das respostas dos doentes foi estratificada de acordo com contagem de células CD4 na altura do início da terapêutica: >500, 499-200 e abaixo de 200/mm3.

Os níveis do ADN do VIH desceram à medida que a contagem de células CD4 durante a terapêutica subiu (correlação negativa = rho 0,145) mas a distribuição dos níveis do ADN do VIH para cada célula CD4 era muito grande.

Os participantes com contagens de células CD4 acima de 500/mm3 tinham uma maior probabilidade de ter este valor normal (mediana de 1011, p<0,0001), um rácio CD4/CD8 normal (1,25, p<0,001) e níveis do ADN do VIH mais baixos (2,51, p = 0,0009) na última consulta se comparados com aqueles com níveis inferiores de células CD4. Entre os que tinham contagem de células CD4 superiores a 500/mm3, 39% tinham uma medição final de ADN do VIH inferior a 2,3 cópias/milhão PBMC em comparação com 21% dos que se encontravam no intervalo 499-200 e 11% dos que se encontravam no intervalo de contagem de células CD4 inferior a 200/mm3 (p<0,001).

Os três objetivos foram atingidos por 30% das pessoas cuja contagem inicial de células CD4 era superior a 500/mm3, em comparação com 3% daqueles com contagem inicial no intervalo dos 499-200/mm3 e nenhum entre os que tinham uma contagem inicial inferior a 200/mm3 (p<0,001). No modelo de riscos proporcionais Cox uma contagem inicial de células CD4 superior a 500/mm3 era o único fator preditivo significativo para alcançar o primeiro objetivo do estudo (hazard ratio 56, p<0,001).

Os investigadores também concluíram que ter contagem inicial de células CD4 mais elevada (>500 células/mm3) antes do início da terapêutica era um indicador modesto de um nível do ADN do VIH mais baixo também antes de se iniciar a terapêutica, ainda que fosse fácil de prever um nível mais baixo do ADN do VIH no final do estudo (p = 0,006). De facto não existia qualquer diferença na redução mediana do ADN do VIH após um ano de terapêutica entre aqueles com níveis de base do ADN do VIH quando comparados com a contagem inicial de células CD4 (superior ou inferior a 500 células) (p = 0,8). Esta conclusão sugere que, tal como acontece com os adolescentes em tratamento desde o início da infância, um tratamento de longa duração pode ter efeitos positivos na redução dos níveis do ADN do VIH.

O Professor Rob Murphy, da Universidade Northwestern de Chicado, chair da sessão, afirmou que “estes são dados muito fortes” a favor do tratamento precoce. O Dr. Houcqueloux apelou a outros médicos com várias coortes de doentes a verificar estes resultados pois “se forem reproduzidos, devemos tratar os doentes com contagem de células CD4 superiores a 500/mm3”, afirmou.

Referência

Hocqueloux L et al. In chronically HIV-1-infected patients long-term antiretroviral therapy initiated above 500 CD4/mm3 achieves better HIV-1 reservoirs' depletion and T-cell count restoration. 7ª Conferência da IAS 2013, abstract WeAB0102, Kuala Lumpur, 2013.

Consulte o abstract no site da conferência da IAS

Veja detalhes da sessão “Reach for the Top: Can We Perfect Current ART?”, na qual estes abstracts foram apresentados, incluindo a apresentação de diapositivos no site da Conferência IAS.

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