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O que está a acontecer com a PrEP? Apesar de sabermos há já dois
anos que a profilaxia pré-exposição (PrEP), na qual uma pessoa seronegativa
para o VIH toma medicamentos antirretrovirais para se proteger da infeção, tem
demonstrado ser altamente eficaz nos homens
gay, pessoas
heterossexuais e em casais serodiscordantes há, ainda, muitas questões sobre a sua praticidade
e generalização. Um outro estudo, por exemplo, concluiu que não funcionava como
opção para jovens mulheres sul-africanas.
Contudo, o custo poderá ser a
barreira mais forte para a disseminação do uso deste novo método de prevenção. Um estudo matemático recente, baseado em dados peruanos
do estudo iPrEX, para homens gay, concluiu que a PrEP poderia
ser custo-eficaz: no Peru, o valor atribuído a um ano extra sem VIH revelou se
de US$140 até $1400, dependendo de como a PrEP fosse cuidadosamente direcionada.
Mas mesmo assim, os custos absolutos da PrEP significariam que, com o atual
preço dos medicamentos, um país como o Perú não poderia suportar um programa
suficientemente alargado para travar o número de infeções.
Há vários programas de ensaios
da PrEP atualmente, mas os quatro estudos mais importantes, desenhados para melhor
compreender o seu potencial são:
ADAPT
(HPTN 067): Este estudo de seis meses compara a utilização do Truvada® (tenofovir/FTC) como PrEP em toma diária, duas vezes por
semana ou no dia anterior ao das relações sexuais, com outra dose duas horas
após o contacto sexual nos dois últimos grupos. Na Cidade de Cabo, 180 mulheres
estão já inscritas; na Tailândia o recrutamento de 180 homens gay e outros
homens que têm sexo com homens (HSH) e trangéneros (TG) começou em setembro; um
segundo grupo HSH/TG está planeado para Nova Iorque.
IPERGAY:
Este
estudo francês de dois anos compara o Truvada®, administrado 24 horas antes e
duas horas após o contacto sexual, com um braço placebo. Atualmente decorre em
fase piloto em três locais, com pouco mais de 100 pessoas inscritas. Espera-se
que, eventualmente, o ensaio se difunda a 2 000 homens gay. Tem surgido alguma
controvérsia sobre se o braço placebo devia continuar, apesar de no dia 1 de
outubro a comissão científica do estudo ter decidido mantê-lo.
PROUD: Este estudo inglês
está planeado para ter início a meio de novembro. O principal objetivo é
descobrir se a toma da PrEP altera outros comportamentos sexuais de risco como
o uso do preservativo, que foi sempre uma preocupação. Na fase piloto, 500
homens gay vão receber uma formação intensa sobre práticas de sexo mais seguro.
A metade dos participantes será imediatamente disponibilizado Truvada® e a
outra metade apenas terá acesso um ano depois. Se este estudo piloto parecer
viável, espera-se que se estenda a um número mais alargado de 5000 participantes.
NEXT-PrEP
(HPTN 069): Este estudo de um ano usa um novo medicamento como PrEP, o maraviroc (Celsentri®). Começou em julho e
recrutará 400 homens gay e 200 mulheres em doze locais norte-americanos. Os
participantes foram divididos em três grupos, um dos quais tomará maraviroc
mais tenofovir e comprimidos placebo de FCT; outro maraviroc e FTC com placebo
de tenofovir; ou maraviroc e tenofovir mais placebo de FTC.
Esperam-se
resultados no final de 2013 para o ADAPT e em meados de 2014 para o NEXT-PrEP;
os resultados dos outros dois dependem das fases piloto serem alargadas.
O tratamento com metadona reduz para metade o risco de infeção pelo VIH O tratamento de substituição opiácea (TSO) com metadona para as pessoas
que usam drogas por via injetada reduz o risco de infeção pelo VIH em, pelo
menos, 40%, de acordo com os resultados sistemáticos de uma meta-análise. Por outro lado, utilizar a metadona como um
medicamento para a obtenção da abstinência do consumo de opiáceos foi associado
a um maior risco de infeção pelo VIH.
Os
investigadores também procuraram estudos sobre TSO com buprenorfina, contudo,
não foi encontrado nenhum que preenchesse os critérios de meta-análise.
Doze
estudos publicados e três estudos por publicar sobre a terapêutica de
manutenção com metadona (TMM), divulgados entre 1992 e 2009, foram
identificados. Destes nove foram suficientemente semelhantes nos resultados
obtidos para serem incluídos na análise. Seis destes estudos decorreram na
América do norte, dois na Europa (Londres e Amesterdão) e um na Tailândia. Três
dos estudos incluíram, também, dados sobre desabituação com metadona. Ocorreram
819 novas infeções pelo VIH correspondendo a uma incidência anual de 3,5%.
No
geral, a TMM reduziu a incidência em 54%; nos seis estudos observados, depois
de ajustados os fatores de confusão, ocorreu uma redução de até 40%. Não houve
evidência de que os benefícios do TSO tivessem divergido de região para região
ou que tenham sido influenciados pela disponibilização de incentivos. Contudo,
houve uma reduzida associação entre a longa duração do tratamento de
substituição opiácea e os melhores benefícios em termos de redução da
incidência da infeção pelo VIH: no estudo conduzido em Amesterdão, que teve um
acompanhamento mais prolongado (20 anos), a TMM reduziu o número de infeções
pelo VIH em 60%.
A
contrastar, quando a metadona foi utilizada com vista à abstinência e não para
manutenção, o risco de infeção pelo VIH foi na realidade 54% superior ao valor
da incidência de linha de base.
“Estes dados reforçam o
apelo global para o aumento de intervenções na área da redução de danos de
forma a diminuir a transmissão da infeção pelo VIH entre as pessoas que injetam
drogas e entre estes e a comunidade no geral”, comentam os investigadores.
A carga viral não serve de defesa na Noruega Os ativistas na área do VIH reagiram com consternação a um relatório divulgado
este mês pela Comissão Norueguesa para o VIH e Lei. Embora pela primeira vez
admita o uso do preservativo como defesa, por outro lado reforça a lei contra a
transmissão da infeção pelo VIH.
Mantém a posição de que a exposição da infeção pelo VIH sem ocorrer
transmissão é crime e afirma que emitir um parecer favorável sobre o risco de
relações sexuais desprotegidas seria apenas juridicamente válido se
testemunhado por um profissional de saúde, a fim de se estabelecer um
consentimento verdadeiramente informado.
As conclusões apresentadas desapontam uma coligação de ativistas na
área do VIH, que esperavam que a análise da lei levasse a que a
comissão restringisse as acusações às situações claramente deliberadas de transmissão da infeção
pelo VIH, tal como aconteceu em alguns países vizinhos, como a Holanda e a Dinamarca. Este último suspendeu processos sob o seu próprio código penal no ano passado.
A comissão afirma que a utilização do preservativo pode representar uma
defesa, independentemente de outros fatores de risco, como os valores da carga
viral de uma pessoa seropositiva. Tal contradiz o recente acórdão do Supremo Tribunal do Canadá, que afirmou que o uso do preservativo
por si só não é suficiente como defesa, uma vez que continua a haver uma “probabilidade
realista” de infeção: não revelar o estatuto serológico não constituirá crime apenas
nos casos onde a pessoa seropositiva tenha também carga viral indetetável.
A comissão norueguesa, a contrastar, não considera válido como defesa a
existência de carga viral em níveis indetetáveis declarando que: “O
conhecimento disponível sobre o risco de infeção…com uma pessoa seropositiva
sob tratamento permanece incerto (para concluir que as relações sexuais
desprotegidas não sejam consideradas crime)”. Contudo, afirmam que a carga
viral indetetável pode ser levada em conta para o estabelecimento da sentença.
Louis
Gay, ativista norueguês, que advoga publicamente contra a acusação de um simples caso de sexo oral em que não houve a revelação do estatuto
serológico positivo – que, ironicamente,
pode não ser condenado sob a nova legislação proposta – comentou apenas
“Bem-vindos ao meu mundo”. Acusado em março, o julgamento de Gay foi agora adiado porque o
queixoso – cuja infeção já foi demostrado não proveio de Gay – saiu do país.
O tratamento como prevenção está a ter bons resultados em França?
Médicos de sete clínicas de VIH das regiões norte e oriental de França identificaram
uma relação entre a diminuição da designada “carga viral comunitária” (CVC) nas
pessoas diagnosticadas entre 2005 e 2010 e o número de novos diagnósticos de
infeção pelo VIH, apesar de esta associação ser mais fraca do que esperado.
Pensa-se já algum tempo que, se uma proporção suficientemente elevada da
população que vive com VIH estivesse sob tratamento, chegaríamos a uma situação
onde as infeções pelo VIH diminuiriam à medida que cada vez menos pessoas tivessem
carga viral detetável.
Alguns estudos em homens gay de São Francisco, pessoas que injetam drogas em Vancouver e heterossexuais em algumas zonas da África do Sul indicam que reduzir os níveis padrão da carga viral das pessoas que vivem
com VIH pode ter um impacto na incidência nesse local. Mas, até agora, não houve
qualquer evidência de tal estar a acontecer na Europa.
No estudo francês, a proporção de pessoas sob terapêutica antirretroviral
há, pelo menos três meses, aumentou de 70% em 2005 para 85% em 2010. Durante
este período, a CVC– definida pela soma do mais recente valor de cada pessoa em
qualquer ano – diminuiu de 79,5 milhões em 2005 para 57,5 milhões em 2010 – dados
estatisticamente significativos.
A diminuição da CVC correspondeu a um modesto valor de 28%, apesar de um aumento
em quase 60% no número absoluto de pessoas sob tratamento nos cinco anos. Tal
deve-se, provavelmente, segundo comentam os investigadores, ao facto de muitas
infeções estarem a aumentar a partir dos estimados 30% de pessoas que vivem com
VIH em França que não estão diagnosticados.
Um outro estudo conduzido em Genebra, na Suíça, apoia esta ideia. Análises
genéticas da infecção pelo VIH em pessoas diagnosticadas entre 2008 e 2010 concluíram
que dois terços destas pertenciam a um novo grupo geneticamente relacionado, e
que 41% pertencia a aglomerados exclusivamente compostos por pessoas
diagnosticadas durante este mesmo período de dois anos. A contrastar, apenas 8%
tinha sido infetado por pessoas que aparentemente tinham contraído a infeção
antes de 2000.
Outras notícias recentes
A incidência de infeções pelo vírus da hepatite C
(VHC) aumentou 18 vezes nos homens gay seropositivos para o VIH na Suíça, desde
1998. Metade de todas as infeções ocorreu entre 2008 e 2011. Em contraste, a
incidência do VHC permaneceu estável nos heterossexuais seropositivos para o
VIH e desceu nas pessoas seropositivas para o VIH que usam drogas por via
injetada (PUDI). Atualmente a incidência do VHC é mais
elevada nos homens gay do que nas pessoas que usam drogas injetadas.
Investigadores norte-americanos concluem que os homens gay podem ser eficaz
e eficientemente recrutados para estudos sobre prevenção da infeção pelo VIH
através da aplicação Grindr para smartphones.
O Grindr foi especialmente útil para alcançar pessoas mais jovens, homens gay
mais letrados com um número elevado de parceiros sexuais.
Os testes rápidos, que têm por objetivo reduzir o “período de janela”
através da deteção tanto de anticorpos como de antigénio p24, tem fracos
resultados nas clínicas do Reino Unido. Embora o Determine HIV-1/2 Ag/Ab Combo
identifique eficazmente as pessoas com anticorpos par o VIH, apresentou resultados
falsos negativos na maioria das pessoas com infeção recente pelo VIH.
Os
homens gay seropositivos para o VIH com lesões anais causadas pelo vírus do
papiloma humano (HPV) desenvolvem cancro anal em níveis preocupantes, segundo
um estudo espanhol. Os cientistas concluíram que um em cada 300 homens gay com
lesão intraepitelial de alto grau (HSIL) progride para
cancro anal no espaço de um ano, tal como em 1 em cada 500 com lesões de baixo
grau (LSIL). A
progressão de LSIL para HSIL foi muito comum verificando-se em 40% dos casos.
Dicas do editor sobre outras fontes
Uma votação efetuada pelo New England Journal of Medicine concluiu que os seus leitores estão
divididos em partes iguais entre considerar a profilaxia pré-exposição como uma
boa ideia. A revista apresentou o caso de um homem gay de 46 anos e de uma
mulher africana de 18 anos que tinham tido sexo desprotegido e perguntou aos
leitores se prescreveriam a PrEP. Cinquenta por cento afirmou que sim para o
homem gay e 49% para a jovem mulher.
Especialistas em saúde sexual dos E.U.A. fizeram
o apelo para que mais raparigas adolescentes recebam a vacina Gardasil® contra
o vírus do papiloma humano (HPV), do qual algumas estirpes causam verrugas genitais, cancro no colo do útero, cancro anal e alguns tipos de cancro oral. Apesar da
FDA aprovar a vacinação de raparigas adolescentes com idades compreendidas
entre os 13 e 17 anos, a vacina, que é 100% eficaz na prevenção das quatro
principais estirpes do HPV se administrada antes do início da atividade sexual,
foi dada apenas a 32% das raparigas em comparação com 84% no Reino Unido, no
ano passado. Os E.U.A., contudo, aprovaram a vacinação do Gardasil® para os
rapazes, o que até agora o Reino Unido falhou em fazer.
A Ministra francesa da Saúde, Marisol Touraine,
recomendou um projeto piloto para salas de consumo por via injetada, designadas
por “salas de chuto”, onde as pessoas que injetam drogas podem fazê-lo num
ambiente esterilizado, com supervisão médica em vez de o fazerem nas ruas. Se o
parlamento francês aprovar este projeto, os ensaios podem começar em dezembro.
Vários países, incluindo a Alemanha e a Suíça, têm já espaços de consumo a
funcionar.
O ativista na área do VIH e antigo jogador de basquete,
Earvin “Magic” Johnson, concordou ser a figura pública da campanha que promove o
kit do teste rápido para o VIH para utilização em casa nos E.U.A..
Com a aprovação da Food and Drug Administration, os norte-americanos poderão recolher
uma amostra oral e obter o resultado em 20 minutos. O OraQuick estará disponível nas farmácias e via online por 40 dólares americanos. O kit do teste rápido não foi
ainda aprovado para venda sem prescrição na Europa
Um trabalhador gay da área da prevenção do VIH em
LA, escrevendo sob o nome de Jake Sobo, lançou um blog honesto e sexy sobre a sua
decisão de iniciar a PrEP para se proteger da infeção pelo VIH e de como tal
afetou as decisões que toma sobre a sua vida sexual.
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