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6ª Conferência da International AIDS Society, Roma, 17 a 20 de Julho de 2011

Tratamento para o VIH É prevenção – mas quais são os próximos passos?

"Ninguém deve ser forçado a fazer o tratamento," Eric Fleutelot da Sidaction. ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Continuando o assunto da apresentação de segunda-feira sobre as conclusões do estudo HPTN 052, ontem, uma sessão explorou alguns dos desafios a considerar nos programas de tratamento-como-prevenção.

Uma dificuldade, sublinhada pelo Professor Julio Montaner da University of British Columbia, no Canadá, é a proporção de pessoas que ainda desconhece o seu estatuto serológico para o VIH. Existem desafios significativos no desenvolvimento e aplicação de programas de cuidados de saúde que envolvam e retenham as pessoas desde o momento do teste para o VIH, através da disponibilização de cuidados de saúde e do início do tratamento, de forma a assegurar uma adesão a longo prazo.

Uma das ideias que surgiu durante a conferência é a de que é antiético não oferecer o tratamento ao parceiro seropositivo para o VIH, num casal serodiscordante (um casal onde um parceiro está infectado pelo VIH e o outro não). Mas, não há consenso sobre este ponto de vista, com outras pessoas a afirmar que, em algumas partes do mundo, o número de casais serodiscordantes será bastante ultrapassado pelo número de pessoas em outras situações, incluindo aquelas infectadas pelo VIH ainda por diagnosticar.

E será necessário considerar, cuidadosamente, a questão dos direitos humanos, com as necessidades das pessoas que vivem com VIH no centro do pensamento e planeamento acerca do papel do tratamento para o VIH como prevenção.

“Todos as pessoas que vivem com VIH devem decidir individualmente quando e como dar início ao tratamento,” afirmou Eric Fleutelot, Director dos Programas Internacionais da Sidaction. “Ninguém deve ser forçado ou coagido a fazer o tratamento primariamente pelo benefício da saúde pública em substituição da sua saúde ou do seu bem-estar.”

A Organização Mundial de Saúde Mundial vai constituir um painel para observar o papel dos medicamentos anti-retrovirais para o tratamento e prevenção, durante o próximo ano e desenvolver orientações internacionais.

O tratamento para o VIH é prevenção – descida na carga viral compensa as alterações nos comportamentos de risco

Um estudo apresentado na Conferência de Roma demonstra que as pessoas que iniciaram a terapêutica anti-retroviral, nos Camarões, aumentaram a sua actividade sexual e envolveram-se em mais relações sexuais desprotegidas.

No entanto, os investigadores pensam que a redução da carga viral dos participantes do estudo anulou o aparente aumento nos comportamentos de risco.

O uso inconsistente de preservativos foi reportado por 40% das pessoas, seis meses após o início da terapêutica para o VIH, mas tal aumentou até 55% após dois anos.

Mas o impacto da terapêutica na carga viral e na infecciosidade ajudou a compensar o aumento do risco sexual.

Os investigadores calcularam que o tratamento reduziu o risco de uma pessoa transmitir o VIH em cerca de 86% após seis meses sob terapêutica e em 89% após dois anos de tratamento.

O tratamento é prevenção – concentrações elevadas de medicamento, carga viral baixa no tracto genital feminino

Imagens da apresentação de Anandi Sheth , da Emory University School of Medicine, Division of Infectious Diseases, em Atlanta, Estados Unidos da América

Um pequeno estudo norte-americano concluiu que as mulheres seropositivas para o VIH sob terapêutica anti-retroviral estável apresentam boas concentrações de medicamento e baixos níveis do VIH no tracto genital.

As 20 mulheres no estudo estavam a tomar atazanavir potenciado com ritonavir (Reyataz®) com FTC/tenofovir (Truvada®), e estavam sob terapêutica anti-retroviral durante uma média de 14 meses.

Foram intensamente monitorizadas durante um período de quatro semanas, assegurando assim que as amostras eram efectuadas durante o ciclo menstrual.

Os níveis de medicamentos anti-retrovirais eram mais elevados nos fluídos genitais do que no sangue – as concentrações de FTC eram 12,2 vezes mais elevadas; de tenofovir 3,4 vezes mais elevadas e de atazanavir 2,5 superiores.

Foram relatados bons níveis de adesão ao tratamento, e tal reflectiu-se nos níveis elevados de supressão do VIH tanto no sangue como nos fluídos genitais.

Mas a presença de células livres de VIH foi detectada em 16% das amostras de fluído genital – é possível que este seja um nível infeccioso.

Mesmo assim, os investigadores acreditam que o estudo oferece mais provas de que a eficácia da terapêutica anti-retroviral reduz a infecciosidade.

Terapêutica diária com aciclovir abranda a progressão da doença pelo VIH

Imagem de Greta Hughson (aidsmap.com)

Um novo estudo demonstrou que os doentes co-infectados pelo VIH e pelo vírus-2 do Herpes Simplex (VHS-2) apresentam uma progressão mais lenta da doença se tomarem aciclovir todos os dias.

A investigação foi conduzida no distrito Rakai, no Uganda, e incluiu doentes co-infectados pelo VIH e pelo VHS-2 que, de acordo com as linhas de orientação locais, ainda não eram elegíveis para a terapêutica anti-retroviral (apresentando uma contagem de células CD4 inferior a 250 células ou estarem doentes devido ao VIH)

Foram randomizados para receber 400mg de aciclovir, duas vezes por dia ou um placebo.

O estudo durou dois anos e os investigadores compararam a proporção de doentes em cada grupo que necessitavam de iniciar a terapêutica para o VIH, por apresentarem ou uma descida na contagem de células CD4 ou o desenvolvimento de uma doença definidora de SIDA.

Os doentes tratados com aciclovir tinham 27% menos probabilidades de iniciar a terapêutica anti-retroviral do que aqueles no braço do placebo.

Os benefícios da terapêutica com aciclovir foram especialmente evidentes nos doentes com carga viral superior a 50 000 cópias/ml no início do estudo.

Uma descida modesta na carga viral do VIH foi observada nos doentes sob aciclovir, porém foram observados aumentos da carga viral nos doentes que recebiam o placebo.

Os investigadores concluíram que “400mg de aciclovir duas vezes por dia atrasava a progressão de doença entre os doentes co-infectados pelo VIH/VHS-2,” adicionando que “o tratamento [aciclovir] da infecção crónica pelo VHS-2 pode ser garantido em doentes seropositivos para o VIH”.

Transmissão da infecção pelo VIH de mãe-para-filho – África do Sul consegue reduzir o número de infecções

As taxas de transmissão da infecção pelo VIH de mãe-para-filho, na África do Sul, desceram abaixo dos 4%, segundo os dados apresentados durante a conferência.

O programa nacional para reduzir a transmissão vertical (mãe-para-filho) da infecção pelo VIH decorre há nove anos.

A drástica redução das taxas de transmissão deve-se à implementação de um programa abrangente a nível nacional, que envolveu o rastreio para o VIH nos cuidados pré-natais e a disponibilização da terapêutica anti-retroviral para mães e filhos.

Um terço das mães seropositivas para o VIH receberam terapêutica anti-retroviral tripla, 62% das mães não amamentaram e 20% reportaram aleitamento materno exclusivo.

No total, a taxa nacional de transmissão da infecção pelo VIH de mãe-para-filho entre as quatro e as oito semanas era de 3,5%.

Teste para o VIH – redes sociais incentivam o rastreio

Imagens da apresentação por Elizabeth Reddy, Duke University Medical Center, Durham, Estados Unidos da América

Um estudo que envolveu pessoas que vivem com VIH a incentivar os seus amigos e relações próximas a fazer o teste para o VIH, ajudou a detectar infecções ainda por diagnosticar.

O pequeno projecto-piloto foi conduzido na zona rural da Tanzânia.

Como parte da metodologia, foram entregues panfletos a setenta e cinco pessoas que vivem com VIH, que recebiam cuidados de saúde num centro de tratamento local, para serem distribuídos entre os seus amigos e contactos, incentivando-os a fazer o teste para o VIH.

Um total de 41 contactos deslocou-se para realizar o teste e 13 pessoas obtiveram um resultado reactivo para o VIH.

Monitorização das células CD4 em locais com recursos limitados

Dr Steven Reid do Imperial College, London. Imagem de Theo Smart (aidsmap.com)

Foi dito aos delegados presentes em Roma, que a monitorização das células CD4 feita por um enfermeiro pode dar às pessoas uma contagem de células enquanto elas esperam para serem atendidas.

A monitorização da contagem das células CD4 representa um importante papel nos cuidados de saúde para o VIH. Contudo, os testes requerem, normalmente, equipamento laboratorial e técnicos especializados.

Uma nova geração de testes de contagem de células CD4 tem vindo a ser desenvolvida para disponibilizar, nos locais próprios de monitorização, os resultados em pouco tempo, cerca de 20 minutos.

Modelos matemáticos indicam que os novos testes podem ser custo-eficazes em muitos locais com recursos limitados, mas tal dependeria do volume de doentes a serem monitorizados.

VIH e ossos – regimes poupadores de nucleósidos preservam a densidade óssea

Uma investigação, nos últimos dois anos, demonstrou que a combinação deraltegravir (Isentress®) com lopinavir/ritonavir (Kaletra®) está associada a uma boa preservação da densidade óssea.

Os investigadores compararam o impacto deste regime terapêutico na densidade óssea com a tradicional combinação terapêutica tripla de FTC/tenofovir (Truvada®) e Kaletra®.

Um dos assuntos mais recorrentes na investigação do VIH é o impacto da terapêutica anti-retroviral na densidade óssea, havendo uma preocupação particular que o tenofovir possa estar especialmente associado à perda de massa óssea.

A combinação de raltegravir/Kaletra® foi tão eficaz como a combinação do regime Truvada®/Kaletra® no controlo da infecção pelo VIH. 

Após dois anos de tratamento, houve uma pequena mudança na densidade óssea dos doentes a fazer a combinação raltegravir/Kaletra®. Em contraste, foram observadas descidas significativas na densidade óssea em doentes sob tenofovir.

As pessoas a tomar raltegravir/Kaletra® tinham menor probabilidade de ter uma redução de 5% na sua densidade óssea do que as pessoas sob o regime terapêutico baseado no Truvada®.

Os investigadores acreditam que esta conclusão é de relevância clínica, salientando que “as descidas observadas no grupo sob lopinavir/ritonavir e tenofovir/FTC são similares, em magnitude, às perdas de densidade mineral óssea observada durante os primeiros dois anos da menopausa.”

Uma baixa contagem inicial de células CD4, carga viral elevada e índice de massa corporal (IMC) baixo foram, também, associados ao aumento de perda de massa óssea.

Nós temos as ferramentas – agora precisamos do dinheiro

Women's Prevention Revolution demonstration. Photo©IAS/Steve Forrest/Workers' Photo

Caspar Thomson, Director Executivo da NAM, pressentiu um certo optimismo e entusiasmo em Roma, à medida que os meios de prevenção para o VIH são investigados.   

Mas, tal como Michael Sidibé, Director Executivo da ONUSIDA, advertiu no início da conferência, “temos de nos lembrar que a história julgar-nos-á, não pelas nossas descobertas científicas, mas pela forma como as aplicamos.”

Leia mais sobre o blogpost do Caspar no nosso site.

Clinical Care Options

A Clinical Care Options está, também, a fazer a cobertura oficial da conferência. Para consultar os resumos e opiniões dos especialistas, consulte o site da Clinical Care Options.

 Tradução disponibilizada por: 

  GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos VIH/SIDA  

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