Ausência de risco de efeitos secundários sérios em utilizadores de PrEP 
Victoria Pilkington na HIV Glasgow 2018. Créditos da imagem: HIV Glasgow
Uma
metaanálise de ensaios clínicos de PrEP controlados e randomizados com
tenofovir ou tenofovir/emtricitabina revelou não haver aumento de risco de
eventos adversos de saúde sério em comparação com o placebo. Mais especificamente, o estudo demonstrou não haver acréscimo
de fraturas ósseas ou disfunção renal significativa, embora tenha ocorrido
disfunção renal moderada (grau 1 e 2) com maior frequência nos utilizadores de
PrEP.
A metaanálise foi
apesentada no International Congress on Drug
Therapy in HIV Infection (HIV Glasgow) por Victoria Pilkington do
Imperial College, Londres.
Os dados foram recolhidos
de 13 ensaios clínicos com controlo por placebo e um estudo aberto no qual o Truvada ou o tenofovir isolado eram
comparados com placebo ou sem tratamento. Três dos estudos usaram tenofovir
sozinho, um (IPERGAY) consistia em PrEP intermitente, e outro (PROUD), comparou
Truvada com a ausência de tratamento.
A metaanálise comparava:
- Todos os eventos adversos sérios ou com risco de vida (grau 3 e 4)
comparados com placebo.
- Todos os eventos adversos definidos no protocolo do estudo (p.ex.
os que os investigadores previam que pudessem acontecer) sob PrEP
comparados com placebo.
- Todas as elevações da creatinina de grau 3 ou 4 sob PrEP comparado
com placebo.
- Todas as fraturas ósseas sob PrEP comparado com placebo.
O estudo não revelou
diferenças significativas entre a PrEP e o placebo para nenhum destes efeitos
secundários.
Uma análise subsequente
das elevações de creatinina de grau 1 ou 2 - um sinal precoce de redução da
função renal – demonstrou um número significativa maior de eventos nas pessoas
sob PrEP quando comparado com placebo ou sem tratamento (4.3% nas pessoas sob PrEP
vs 2.3% nas pessoas sem PrEP).
A metaanálise não conseguiu
comparar as alterações na densidade mineral óssea ou na depuração da creatinina
devido as medidas inconsistentes entre estudos. A metaanálise não incluiu
efeitos secundários agudos tais como náusea e dores de cabeça.
Defeitos do tubo neural e inibidores da integrase 
Nenhuma evidência
adicional do aumento de risco de defeitos do tubo neural infantil relacionados
com o uso do dolutegravir ou outros inibidores da integrase no início da
gravidez surgiu nas análises de
segurança conduzidas nos últimos meses, segundos dados apresentados na última
conferência.
O risco potencial de um efeito
prejudicial do inibidor da integrase dolutegravir no desenvolvimento
neurológico fetal foi sinalizado depois de um aumento na incidência de defeitos
o tubo neural que foi observado em crianças nascidas
de mães que estavam sob dolutegravir no momento da conceção. A
Organização Mundial de Saúde emitiu subsequentemente recomendações para os
programas nacionais de tratamento que sugeria que os regimes que continham
dolutegravir deveriam ser evitados nas mulheres em idade fértil, excetuando os
casos em que houvesse contraceção adequada.
Três coortes apresentaram
dados sobre a incidência de defeitos do tubo neural em crianças expostas ao
dolutgravir e outros inibidores da integrasse. A coorte maior, o Canadian
Perinatal HIV Surveillance Program, não encontrou nenhum indício retrospetivo
de defeitos do tubo neural nas 80 crianças expostas ao dolutegravir durante o
primeiro trimestre. Contudo, o estudo encontrou uma taxa três vezes maior de
anomalias congénitas em crianças expostas ao elvitegravir durante o primeiro
trimestre
A Frankfurt HIV Cohort
não revelou nenhum caso de defeito do tubo neural nas 52 crianças expostas a
inibidores de integrasse e a Eastern and Central European Network Group também
não encontrou nenhum caso nas crianças de 28 mulheres expostas ao dolutegravir
durante a gravidez.
Os investigadores da Eastern
and Central European Network Group enfatizaram a importância de se coligirem
dados sobre outros factores de risco que podem afetar o resultado dos
nascimentos. Nas 22 mulheres tratadas com dolutegravir, somente 22 estavam a
tomar suplementos de ácido fólico (que protege contra os defeitos do tubo
neural), quatro eram fumadoras antes da conceção, três estavam a usar
substâncias psicoativas e sete estavam sob medicação concomitante.
Surto de VIH entre pessoas injetam drogas em Glasgow 
Médicos e
enfermeiras especializados, em Glasgow, fizeram uma panorâmica sobre de que
forma os serviços da cidade responderam a um surto de transmissão rápida do VIH entre pessoas que injetam drogas no centro da
cidade, depois de 2014.
O surto epidémico
concentrou-se entre utilizadores de drogas sem abrigo na cidade, por isso os
técnicos do Brownlee Centre for Infectious Diseases abriram clínicas nos
centros de saúde para sem abrigo e iniciaram uma estratégia de proximidade nas
ruas para garantir que uma vez diagnosticados com VIH, os utilizadores de
drogas injetadas se mantivessem ligados aos serviços clínicos. Foram
dispensados, juntamente com terapêutica de substituição opiácea, fármacos
antirretrovirais nas farmácias comunitárias. As pessoas com hepatite C e
coinfecção com VIH podiam também receber antivirais de ação direta para o
tratamento da hepatite C, no mesmo contexto.
No geral, 102
pessoas que injetam drogas diagnosticadas deste 2014 receberam
antirretrovirais, segundo Rebecca Metcalfe do Brownlee Centre. Noventa e cinco
por cento estão atualmente em tratamento e 86,5% do total dos diagnosticados
têm carga viral indetetável.
Novos antirretrovirais para tratar pessoas com resistências a múltiplos fármacos para o VIH 
Zvi Cohen na HIV Glasgow 2018. Créditos da imagem:
HIV Glasgow
Novos dados sobre dois
fármacos de desenvolvimento recente para o tratamento de pessoas com
resistências extensas aos fármacos para o VIH foram apresentados durante o HIV
Glasgow 2018.
O Ibalizumab (Trogarzo) é um anticorpo monoclonal
humanizado que inibe o VIH de usar os coreceptores depois de se ligar a um
recetor de CD4. Um regime de tratamento que continha
ibalizumab conduziu a uma redução substancial da carga viral numa maioria de pessoas
altamente resistentes com poucas opções de tratamento remanescentes que
receberam, segundo a apresentação do Dr Zvi Cohen da Theratechnologies na
conferência.
Ao fim de 48 semanas, 15
das 40 pessoas que iniciaram tratamento com ibalizumab tinham carga viral
inferior a 50 cópias/ml com um regime otimizado recorrendo a teste de
resistências. Os participantes tinham resistências altas aos fármacos: pelo
menos 90% eram resistentes a um agente da classe dos inibidores nucleósidos da
transcriptase reversa, à classe dos inibidores não-nucleósidos da transcriptase
reversa e à classe dos inibidores da protease. Sessenta e oito por cento eram
ainda resistentes a pelos menos um inibidor da integrasse.
O Ibalizumab (Trogarzo) foi aprovado pela Food and
Drug Administration dos EUA em março de 2018 para pessoas com muita experiência
de tratamento e com resistências múltiplas aos fármacos para o VIH cujo o
regime atual tenha falhado. Está atualmente a ser revisto pela Agência Europeia
do Medicamento.
O fostemsavir, outro
fármaco para o tratamento de VIH resistente a fármacos, evita que o VIH se
ligue aos CD4 bloqueando a mudanças na forma da proteína gp120 do VIH que é
necessária para que o vírus interaja com o recetor do CD4.
Os resultados do
estudo de fase III, BRIGHTE, demonstrou que 54% das pessoas que receberam o
fostemsavir num braço aleatório do estudo e 38% no braço aberto tinham carga viral indetetável ao fim de 48 semanas.
Todos os participantes receberam um regime otimizado com um teste de resistências.
Porém, os participantes do braço aberto não tinham fármacos ativos disponíveis
para otimizar um regime e os participantes do braço randomizado tinham um ou
dois fármacos ativos em pelos menos duas classes de antirretrovirais.
O fostemsavir ainda não
foi aprovado, mas a ViiV Healthcare afirma que este fármaco será desenvolvido
para pessoas muito experientes em tratamento.
Dolutegravir ou uma dose mais baixa e efavirenz têm a mesma eficácia 
Eric Delaporte na HIV Glasgow 2018. Créditos
da imagem: HIV Glasgow
O tratamento com
dolutegravir não foi mais eficaz que o tratamento com a dose de 400mg de
efavirenz, segundo a evidência de um ensaio conduzido nos Camarões. Contudo, quase metade das pessoas com carga viral muito
alta, tomando qualquer um dos regimes, tinha carga viral indetetável às 48
semanas, segundo demonstram os resultados do estudo NAMSAL ANRS 12313.
O dolutegravir
com tenofovir e lamivudine são recomendados como regime preferencial para primeira linha do tratamento antirretroviral
em contexto de países de rendimentos baixos ou médios pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) nas recomendações emitas em julho de 2018. Estas recomendações
sugerem que o dolutegravir deve ser usado juntamente com contraceção eficaz e
consistente em mulheres em idade fértil e que os 600mg efavirenz devem ser
usados como alternativa, mesmo quando não está disponível contraceção eficaz.
Baixar a dose do
efavirenz tem benefícios em termos de efeitos secundários e custo. O efavirenz
400mg foi recomendado como opção alternativa para o tratamento de primeira
linha pela OMS em 2016, mas não havia nenhum estudo de comparação com o
dolutegravir. Isto deixa os programas de tratamento nacional com um dilema,
pois o dolutegravir demonstrou ser superior ao efavirenz 600mg.
O estudo randomizou 616 adultos. A mediana de contagem
células CD4 foi de 281 células/mm3. Dois terços dos participantes do
estudo tinham carga viral alta (acima das 100 000 cópias/ml) e um terço
tinha carga viral acima das 500 000 cópias/ml.
Depois de 48 semanas em
tratamento não houve diferença significativa na proporção de participantes de
ambos os braços que tinham carga viral abaixo das 50 cópias/ml (74.5% no braço do dolutegravir e 69% no braço do efavirenz), mas o estudo revelou que ambos os regimes foram menos
eficazes com níveis de cargas virais altas. Nos participantes como cargas
virais inicias acima das 500 000 cópias/ml, 54,6% do grupo do dolutegravir
e 57,9% do grupo do efavirenz 400mg tinham carga viral abaixo das 50 cópias/ml,
à semana 48.
Nenhum dos que tiveram
falha virológica com o dolutegravir tinha evidência de mutações que conferissem
resistência ao fármaco, mas nove das pessoas que receberam efavirenz 400mg
desenvolveram resistência ao fármaco, em três casos a todos os fármacos do
regime.
Eric Delaporte da
University of Montpellier afirmou que estas evidências justificam o uso do
dolutegravir como regime preferencial de primeira linha, para preservar opções
futuras de tratamento.
O Bictegravir iguala o dolutegravir em regimes de primeira-linha 
Hans-Jürgen Stellbrink na HIV Glasgow 2018. Créditos da imagem: HIV
Glasgow
Uma combinação
tripa que contém o novo inibidor de integrase bictegravir comprovou ser tão
eficaz como as combinações com dolutegravir na supressão da carga viral ao
longo de 96 semanas, contudo as
pessoas sob bictegravir tiveram significativamente menos eventos adversos,
segundo a comunicação do Professor Hans-Jürgen Stellbrink da Universidade de
Hamburgo, no HIV Glasgow.
O bictegravir é um novo
inibidor da integrasse. Foi aprovado na União Europeia e nos Estados Unidos
como parte de uma formulação de comprimido único apelidada de Biktarvy, combinado com emtricitabina e
tenofovir alafenamida.
Foram apresentados
resultados do estudo GS-1490, durante a conferência, que comparava o Biktarvy
com um regime de dolutegravir, tenofovir
alafenamida e emtricitabina, em
pessoas sem tratameto prévio.
Durante a 9ª
Conferência Internacional da AIDS Society sobre Ciência do VIH em Paris, em
julho de 2017, foi apresentada uma análise do objetivo principal do estudo
demonstrando não haver diferenças entre os dois regimes nas taxas de supressão
virológica ao fim das 48 semanas de tratamento.
Na HIV Glasgow,
Hans-Jürgen Stellbrink apresentou os resultados da análise do segundo objetivo
do estudo: as taxas de supressão viral às 96 semanas e os eventos adversos.
Na análise de intenção de tratar, que inclui
todos os que foram randomizados para participar no estudo, demonstrou-se que
após as 96 semanas, 84,1% dos que recebiam Biktarvy e 86,5% dos que estavam sob um regime
baseado no dolutegravir tinham carga viral abaixo <50 cópias/ml, uma
diferença não significativa.
Os eventos adversos
relacionados com o tratamento foram significativamente mais frequentes nas
pessoas as receber o regime baseado no
dolutegravir que no grupo do Biktarvy (28% vs 20%, p = 0.02), mas não houve diferença na taxa de abandono devido a
eventos adversos (2%). Os eventos adversos mais frequentes foi a náusea, a
diarreia e dor de cabeça.
A hepatite C aumenta o risco de parto prematuro 
Karoline Nowicka na HIV Glasgow 2018. Crédito da Imagem: HIV Glasgow
A coinfeção com hepatite c aumenta
exponencialmente o risco de parto precoce para as mulheres que vivem com VIH,
segundo o apresentado por Karolina Nowicka da
Medical University of Warsaw. A coinfecção foi o único fator de risco para
parto prematuro em 159 gravidezes entre 2006-2017 de mulheres que são tratadas
na Clínica de VIH de Varsóvia. As mulheres que vivem com coinfeção de hepatite
C e VIH tinham pelo menos quatro vezes mais probabilidades de ter um parto
prematuro quando comparadas com mulheres somente com infeção pelo VIH, afirmou.
A terapia dupla com inibidor de protéase é tão efixaz como a tripla 
Zara Liew na HIV Glasgow 2018. Créditos da imagem: HIV Glasgow
A terapêutica antirretroviral com um inibidor da protease
potenciado e outro fármaco é tão eficaz como uma regime antirretroviral de três
fármacos com um inibidor de protease potenciado. Além disso, resultou
ainda em menos abandonos do tratamento devido a efeitos secundários, segundo
uma metaanálise apresentada na conferência.
O tratamento com
uma combinação dupla de antirretrovirais genéricos pode reduzir
significativamente o custo do tratamento pata pessoas sem tratamento prévio e
para pessoas em combinações triplas já me supressão viral. A metaanálise
revelou não haver diferença nos resultados entre as pessoas que iniciaram tratamento
e aquelas que mudaram de uma combinação de três fármacos.
“Os
nossos resultados poem em causa o porquê de ainda usarmos regimes terapêuticos
de três fármacos com inibidores de protéase quando os regimes duplos são
igualmente eficazes, seguros e mais baratos”, afirmou Zara Liew do Imperial
College, Londres.
Sublinhou ainda que o darunavir/ritonavir com
lamivudina têm o potencial de ser mais baratos que qualquer tratamento triplo
ou uma combinação dupla que contenha dolutegravir.
Apesar do dolutegravir/rilpivirna (Juluca) custar cerca de 9 500€/ano no
Reino Unido e do dolutegravir/lamivudina custar 6 980€ (baseado na lista de
preços individuais dos fármacos), o darunavir/ritonavir com lamivudina custa 4
450€/ano e o custo pode ainda baixar quando as versões genéricas do darunavir/ritonavir
estiverem disponíveis nos próximos anos. Na Argentina, por exemplo, uma versão
genérica do darunavir/ritonavir custa menos de 790€/ano.
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