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6ª Conferência da International AIDS Society, Roma, 17 a 20 de Julho de 2011

O tratamento é prevenção – E agora?

Anthony Fauci do National Institute of Allergy and Infectious Diseases no National Institute of Health, E.U.A.. Photo©IAS/Steve Forrest/Workers' Photos

O Dr. Anthony Fauci, do US National Institute of Allergies and Infectious Diseases afirmou que “É cientificamente exequível acabar com a epidemia do VIH”.

A prevenção tem sido o principal tema da Conferência de Roma. “O tratamento como prevenção” tem recebido bastante atenção, à medida que  a evidência sobre este conceito – e uma variedade de benefícios associados – é, agora, claro.

As pessoas de todas as áreas interessadas na infecção pelo VIH, quer pessoalmente afectadas ou profissionalmente envolvidas, começam agora a explorar todas as implicações – práticas, financeiras, sociais e legais – para o desenvolvimento de uma ferramenta de prevenção global assente no tratamento para o VIH.

Em duas sessões consecutivas, o tema principal incidiu em como transpor o potencial da prevenção para a prática.

A falta de recursos e o estigma foram identificados como os principais desafios.

Implementar o tratamento como prevenção envolverá custos consideráveis, tanto em medicamentos como em recursos humanos.

Uma outra forte barreira será a mobilização das pessoas para fazerem o teste para VIH – em especial, as populações mais estigmatizadas e criminalizadas, como os utilizadores de drogas injectáveis, trabalhadores do sexo comercial e, em alguns países, os homens que têm sexo com homens.

Conciliar as metodologias da prevenção a circunstâncias individuais foi, também, mencionado como prioridade.

Tratamento para o VIH – iniciar pouco depois da infecção atrasa modestamente a necessidade da terapêutica a longo termo

As pessoas que iniciaram um tratamento para o VIH de 48 semanas, durante as primeiras doze semanas que se seguiram à sua infecção com o vírus, atrasaram ligeiramente a necessidade de estar sob terapêutica a longo prazo.

Especulava-se que estar sob tratamento para o VIH pouco após a ocorrência da infecção (período conhecido como “infecção primária”) reduziria os danos causados pelo vírus e levaria a uma progressão mais lenta da doença.

Para explorar isto, o estudo SPARTAC monitorizou três estratégias de tratamento durante a infecção primária:

  • Iniciar o tratamento nos seis meses após a infecção e permanecer sob tratamento 48 semanas.
  • Iniciar o tratamento nos seis meses após a infecção e permanecer sob tratamento 12 semanas.
  • Disponibilizar cuidados de saúde padrão, monitorizar a contagem das células CD4 e iniciar o tratamento de acordo com as orientações actuais.

Os investigadores pretendiam verificar se alguma destas abordagens atrasava a necessidade de iniciar o tratamento anti-retroviral – actualmente recomendado para ter início quando a contagem das células CD4 desce para cerca de 350 células/mm3.

Um total de 371 doentes foram incluídos no estudo e randomizados para diferentes braços, com aproximadamente doze semanas de infecção pelo VIH. Neste período, todos os participantes tinham contagens elevadas das células CD4 – mais de 500 células/mm3 – e níveis de carga viral em cerca de 30 000 cópias/ml.

O tratamento para o VIH consistiu em lopinavir/ritonavir (Kaletra®) combinado com AZT/3TC (Combivir®).

Os participantes do estudo foram monitorizados durante uma média de quatro anos.

Os resultados demonstraram que os doentes sob tratamento de 48 semanas tinham significativamente menor probabilidade de ter uma descida na contagem das células CD4 para um valor inferior a 350 e de necessitarem da TAR a longo prazo.

Este tratamento precoce apenas atrasou a necessidade da terapêutica vitalícia em 65 semanas.

Tendo em consideração as 48 semanas de tratamento iniciais, os investigadores calcularam que o tratamento precoce apenas resultou em menos quatro meses de tratamento durante o período de vida de uma pessoa.

Fazer um tratamento com duração de três meses pouco tempo depois da infecção pelo VIH não teve qualquer benefício a longo prazo.

Tratamento novo e experimental - elvitegravir

Jean-Michel Molina do Hospital Saint Louis, em Paris, apresentou os resultados do estudo. ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Um estudo demonstrou que o elvitegravir, um inibidor da integrase experimental, é tão eficaz como o raltegravir (Isentress®), actualmente o único medicamento licenciado nesta classe.

A investigação envolveu pessoas com extremamente resistentes aos medicamentos anti-retrovirais. Um total de 702 pessoas foi envolvido no estudo randomizado.

O tratamento consistiu em elvitegravir ou raltegravir, combinado com um inibidor da protease potenciado com ritonavir e outro fármaco anti-retroviral activo. 

Após 48 semanas, proporções idênticas de pessoas (59%) que recebiam elvitegravir e raltegravir tinham uma carga viral indetectável. Os benefícios a nível das células CD4 eram, também, equivalentes.

Ambos os medicamentos foram igualmente bem tolerados, e as taxas de efeitos secundários similares.

O tratamento com o elvitegravir consiste numa toma diária, enquanto o raltegravir em duas tomas diárias.

VIH e Hepatite C – maraviroc melhora a fibrose

Introduzir o maraviroc (Celsentri®) ao regime do tratamento anti-retroviral foi associado a uma melhoria num importante marcador de fibrose no fígado em pessoas infectadas pelo VIH e hepatite C.

Muitas pessoas que vivem com VIH também têm hepatite C (muitas vezes designado por co-infecção) e a doença hepáticas provocada pela hepatite C é a principal causa de doença e morte neste grupo.

O tratamento para a hepatite C está disponível, no entanto, nem sempre é eficaz e pode ter efeitos secundários desagradáveis. É, por isso, urgente novas terapêuticas e abordagens ao tratamento.

Os investigadores concluíram agora que acrescentar o maraviroc ao tratamento para o VIH já existente, melhora a rigidez do fígado - um bom indicador de fibrose - em doentes co-infectados que não estão sob tratamento para a hepatite C.

Este pequeno estudo monitorizou, em dois grupos, a rigidez do fígado durante 24 semanas. Num grupo, introduziu o maraviroc ao tratamento e, no outro grupo, as pessoas permaneceram sem alterações ao seu regime terapêutico.  

Após seis meses, a rigidez do fígado tinha melhorado no grupo sob maraviroc e no outro grupo, o fígado tinha-se deteriorado. 

Os investigadores pensam que tal se deve à inibição do co-receptor CCR5 provocada pelo maraviroc.

Este estudo é de pequena dimensão, pelo que estes resultados precisam de confirmação através de outros estudos. 

Apesar disso, os investigadores consideram que o tratamento com maraviroc pode ser útil para os doentes co-infectados não elegíveis ou que não respondem ao tratamento estandardizado da hepatite C.

Prevenção do VIH – programas de circuncisão

Imagem da apresentação de Catherine Hankins, ONUSIDA.

A implementação de um programa em Orange Farm, na África do Sul, teve bons resultados ao aumentar a proporção de homens circuncidados em 49%

O distrito de Orange Farm, perto de Joanesburgo, foi o local escolhido para um ensaio randomizado que demonstrou que a circuncisão reduziu o risco de infecção pelo VIH nos homens.

Iniciado em 2008, a circuncisão gratuita foi, posteriormente, disponibilizada a todos os homens do distrito.

Em 2010, a proporção de homens circuncidados aumentou de 16 para 49%.

A prevalência do VIH foi de 6% nos homens circuncidados, mas de 20% nos homens não circuncidados.

Bertran Auvert, Investigador principal (esquerda) Jean-Francois Delfraissy, Responsável pelo financiamento do ensaio, ANRS.©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

A circuncisão pareceu não ter impacto na prática de comportamentos de risco. Os níveis de uso do preservativo e o número de parceiros sexuais foram similares para os homens circuncidados ou não.

Contudo, lentamente, os programas de circuncisão têm aumentado nos países com elevadas prevalências.

Foi dito aos delegados que “a implementação de programas de circuncisão masculina segura tornou-se a prioridade na área da saúde na África Austral e Oriental, e que é necessário um forte compromisso político”.

Défice Cognitivo

Imagens da apreentação de Valerio Tozzi, da Italian National Institute of Infectious Disease.

Segundo demonstra um estudo apresentado na conferência, o défice cognitivo continua a ser muito comum nas pessoas que vivem com VIH.  

Este foi associado a contagens baixas das células CD4 e ao não tomar a terapêutica anti-retroviral – ambos potencialmente modificáveis.

Muito se tem falado sobre a prevalência e consequência do défice cognitivo nas pessoas que vivem com VIH. Há evidências divergentes sobre se é comum. Além disso, muitos médicos pensam que o défice cognitivo é, muitas vezes, tão ligeiro que não tem significado real.

Recentemente, os investigadores italianos monitorizaram a prevalência e o risco de défice cognitivo por um período de 14 anos, entre 1996 e 2010.

Concluíram que a prevalência de défice cognitivo desceu de 46% entre 1996 e 1998 para 38% entre 2008 e 2010.

A proporção de pessoas com sintomas cognitivos sentia-se estabilizada, contudo, surgiu um aumento na percentagem de pessoas com sintomas cognitivos muito leves.

Pessoas mais velhas, contagens baixas das células CD4 e diagnóstico de SIDA foram fortemente associadas a problemas na cognição. A doença cardiovascular surgiu também como um factor de risco.

Estar sob medicamentos anti-retrovirais com boa penetração cerebral não pareceu reduzir significativamente o risco de problemas na cognição.

Os investigadores pensam que o défice de cognição é, provavelmente, devido a efeitos inflamatórios da infecção pelo VIH, que podem ser desencadeados até por baixos níveis de replicação viral do VIH.

Os passos dos espanhóis

Juanse Hernándes e Xavier Franquet do Grupo de Trabajo sobre Tratamientos del VIH (gTt), Barcelona. Imagem de Caspar Thomson (aidsmap.com)

À medida que os delegados começam a deixar Roma, Caspar Thomson, Director Executivo da NAM, explica alguns dos passos da nossa cobertura da conferência e fala com a nossa organização parceira espanhola sobre as suas impressões da conferência.

Xavi diz que o tratamento como prevenção “é importante para a nossa auto-estima. Pode ajudar-nos a não nos considerarmos vectores da transmissão. Esta mensagem tem de ser, efectivamente, comunicada para a sociedade em geral e os decisores políticos precisam de a adoptar. A prova está cá.”

Leia mais sobre o blogpost do Caspar no nosso site.

Links relacionados:

Clinical Care Options

A Clinical Care Options está, também, a fazer a cobertura oficial da conferência. Para consultar os resumos e opiniões dos especialistas, consulte o site da Clinical Care Options.

 Tradução disponibilizada por: 

  GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos VIH/SIDA  

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