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NAM aidsmap

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AIDS 2010 XVIII International AIDS Conference Vienna 18-23 July 2010

A epidemia de VIH e os homens gays – um retrato complexo

Imagem da NAM's new E-atlas, on-line em www.aidsmap.com/e-atlas

Durante a Conferência, houve notícias encorajantes sobre a epidemia do VIH entre os homens gays na Dinamarca. Mas, outras investigações conduzidas na Tailândia e no Brasil demonstraram uma elevada incidência do VIH em alguns grupos de homens que têm sexo com homens (HSH) e pouca informação sobre os riscos relacionados com a infecção.

A evidência na Dinamarca parece apoiar o uso da terapêutica anti-retroviral como preventiva.

Foi dito que o número de novas infecções entre homossexuais masculinos está a descer. Os investigadores pensam que a explicação mais provável é que as pessoas seropositivas para o VIH se tornam menos infecciosas devido ao tratamento. A descida no número de novas infecções verificou-se no contexto do crescente número de pessoas a viver com o vírus e de níveis mais elevados de relações sexuais desprotegidas.

Cerca de 80% dos homossexuais dinamarqueses que conhecem o seu estatuto serológico positivo para o VIH está sob tratamento. A maioria – 82% – tem carga viral indetectável.

Os investigadores calcularam que a percentagem de homens gays que transmitem a infecção tem descido consistentemente desde 1995. Acreditam também que a explicação mais provável é a crescente percentagem de homens que estão sob tratamento com carga viral indetectável e que, consequentemente, nunca ou muito raramente transmitem a infecção a outros.

Contudo, outras investigações na Tailândia concluem que, a cada ano, 6% dos jovens homossexuais e outros homens que tem sexo com homens estão a ser infectados pelo VIH  

O estudo foi conduzido em Banguecoque, entre 2006 e 2008 e envolveu aproximadamente 1 300 homens gays. No início do estudo, 22% dos participantes eram seropositivos para a infecção pelo VIH e, no decorrer do mesmo, mais 135 homens foram infectados. Isto traduziu-se numa taxa de incidência anual ligeiramente inferior a 6%.

A média de idade na altura da infecção foi de 26 anos – o que significa que 50% das pessoas infectadas com VIH, foram-no na adolescência ou na casa dos 20 anos.

Outro estudo conduzido na Tailândia, mais encorajador, indicou que a prevalência de VIH entre os homens gays parece estar a descer. Subiu até aos 31% em 2007 mas, em 2009, tinha diminuído para 25%.

Foi observada uma descida na prevalência em menores de 22 anos e o número de homens que relataram sexo desprotegido também desceu.

Um estudo brasileiro independente concluiu que apenas 47% dos homossexuais tinha um bom conhecimento sobre os riscos associados ao VIH. Além disso, 75% dos homens tinha a percepção de ter um risco baixo de poder ser infectado, mesmo que metade destes tivesse recentemente tido sexo desprotegido com um parceiro casual.

Microbicidas e circuncisão

Modelos matemáticos apresentados durante a conferência sugerem que a utilização de microbicidas e/ou a circuncisão podem ligeiramente reduzir o ritmo de crescimento da epidemia pelo VIH em África.

Investigadores da London School of Hygene and Tropical Medicine estimaram que estes dois métodos de prevenção podem reduzir o número de infecções em 20% em 20 anos.

Outro modelo baseado num grupo de casais no Uganda, contemplou a eficácia de outras formas diversas de prevenção em casais, cujo estatuto serológico de um dos parceiros é positivo. No modelo complexo, “uso do preservativo” quer dizer que os preservativos eram utilizados 57% das vezes. Calculou-se que estes níveis de uso do preservativo, combinado com a terapêutica anti-retroviral, virão a ter um grande impacto, reduzindo potencialmente as transmissões até 82%.

Calculou-se que a utilização da profilaxia pré-exposição (PrEP) juntamente com o tratamento para o VIH virá a ter um impacto similar sobre a epidemia.

Microbicidas – e agora o que se segue?

Director do Estados Unidos National Institute of Allergies and Infectious Diseases, Anthony Fauci. ©IAS/Steve Forrest/Workers' Photos

As implicações do estudo CAPRISA foram descritas como “realmente enormes” pelo chefe de investigação norte-americano, Anthony Fauci.

O estudo mostrou que o microbicida vaginal em gel que contém tenofovir reduz o risco de infecção pelo VIH em 39%.

Os resultados do estudo VOICE que compara o microbicida vaginal com a PrEP são aguardados com expectativa e também existe a esperança de que os microbicidas possam mostrar eficácia quando utilizados por via rectal.   

Mas ainda haverá que esperar muitos anos até que os microbicidas estejam disponíveis. “O que me preocupa é que quando regressar ao meu escritório na segunda-feira as pessoas terão escrito e-mails a solicitar o microbicida. Vai ser muito difícil esclarecer que isto é apenas uma prova de conceito ”, disse Yurgen Pillay, do Departamento de Saúde da África do Sul.

A segurança do tratamento para o VIH durante a gravidez

Duas décadas de dados mostram que o tratamento para o VIH durante a gravide não aumenta o risco de anomalias nos nascimentos.

Investigadores analisaram 20 anos de informação sobre anomalias fetais recolhida pelo Antiretroviral Pregnancy Register. A percentagem de anomalias na natalidade é idêntica àquela observada na população geral (2,7%).

Aliás, apesar das preocupações anteriores, não houve indícios de que o tratamento com efavirenze durante a gravidez aumentasse o risco de anomalias.

No entanto, houve evidências que sugerem que a medicação com inibidores da protease durante a gravidez aumenta o risco parto prematuro ou com baixo peso.

Em associação com:

TARc na gravidez: custo-eficácia e abordagens práticas a serem exploradas

O Ministro da Saúde do Malawi está a planear disponibilizar o mais rápido possível a terapêutica de combinação a todas as mulheres grávidas que vivem com VIH, para proteger a vida destas e reduzir a transmissão mãe-filho.

As orientações terapêuticas da OMS recomendam que as mulheres que são diagnosticadas durante a gravidez e com uma contagem de células CD4 abaixo das 350 devem iniciar o tratamento para o VIH imediatamente e permanecer sob tratamento.

Para as mulheres com uma contagem de células CD4 acima das 350, a OMS indica duas opções para tratamento a curto-prazo durante a gravidez e após o parto. O Malawi optou por uma delas, contudo as mulheres permanecerão sob terapêutica anti-retroviral tripla para sempre.

O Malawi precisará de assistência do Fundo Global para poder implementar esta decisão. Contudo, este regime é considerado mais fácil de tolerar do que outros que envolvem mudança de tratamento durante as diferentes fases e após a gravidez.

Outros países africanos estão a considerar a melhor forma de implementar as orientações da OMS para mulheres grávidas nas suas realidades locais. A falta de acesso à monitorização de células CD4 e a falha na formação de profissionais de saúde fazem com que a implementação seja difícil.

O Malawi foi descrito como “o único país que quer quebrar as barreiras”, e os especialistas afirmam que esta é uma grande oportunidade para ver como funciona a abordagem “do teste e do tratamento universal”.

Estão a ser utilizados modelos matemáticos para encontrar o meio mais custo-eficaz de prevenir a transmissão mãe-filho (vertical) nos países em desenvolvimento

O US Centers for Disease Control Global AIDS Program concluiu que embora ambas as opções da OMS sejam igualmente eficazes na prevenção da transmissão vertical (e melhores que os protocolos anteriores da OMS), uma opção – envolvendo tratamento com AZT/3TC para a mãe e nevirapina para a mãe e bebé – seria mais eficaz.

Em associação com:

Novo medicamento – efeito no VIH e inflamação

Imagens da apresentação de David Martin, Tobira Therapeutics

TBR-652, um medicamento anti-retroviral experimental, parece ter um duplo benefício – inibindo o VIH e reduzindo a inflamação.

Os delegados da conferência ouviram que isto acontece porque o medicamento bloqueia dois receptores na superfície das células: o CCR5 – utilizado pelo VIH; e o CCR2 – utilizado por uma proteína associada à inflamação.

Existe um crescente consenso de que, mesmo uma carga viral baixa pode causar inflamação, e que isto pode ajudar a explicar as crescentes taxas de algumas doenças cardiovasculares e outras doenças graves observadas em doentes com o VIH.

O TBR-652 foi estudado como monoterapia em fase 2, num estudo de dez dias que envolveu 54 doentes. Cada participante recebeu uma de cinco doses do fármaco. A dose de 75mg por dia teve um impacto altíssimo sobre a carga viral.

O medicamento mostrou ser seguro e bem tolerado e nenhum dos doentes que tomou a dose de 75 mg reportou qualquer efeito secundário.

Além disso, o fármaco também revelou ter impacto sobre a inflamação. Os investigadores atribuíram isto à capacidade do TBR-652 de bloquear o CCR2.

Mas os benefícios disto ainda são incertos. Existe a preocupação de que o bloqueio do CCR2 possa interferir com a resposta imunitária e, portanto, aumentar o risco de infecções.

Planeiam-se mais estudos com este medicamento.

Mudar para raltegravir

De acordo com dois estudos apresentados durante a conferência, as pessoas que mudaram de um inibidor da protease potenciado para o inibidor da integrase raltegravir (Isentress®) mantiveram, no geral, a carga viral indetectável, com melhoria dos níveis lipídicos no sangue.

Contudo, uma dose diária não tem resultados tão bons como uma dose duas vezes ao dia para as pessoas que já têm resistência aos Inibidores Nucleósidos da Transcriptase Reversa.

Novo recurso da NAM: HIV and the Criminal Law

“Ao ajudar-nos a compreender o impacto da lei no aumento dos casos de transmissão pelo VIH e nas vidas daqueles que vivem com o vírus, este manual consolida a sua importância e a sua autoridade [...]."

O Honorável Michael Kirby AC CMG e Edwin Cameron, Juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul

“HIV & the Criminal Law” é um novo recurso do NAM, disponibilizando um manual sobre os problemas e o impacto da criminalização da transmissão e exposição pelo VIH. Sendo uma compilação sobre o efeito global da legislação e dos procedimentos penais e de como estas leis e procedimentos penais influenciam os indivíduos e a sociedade.

Esta fonte informativa será um recurso valioso para as pessoas que vivem com VIH, activistas e consultores, políticos e legisladores, aqueles que trabalham no sistema judicial e para os jornalistas.

A versão impressa poderá ser comprada no Outono, mas poderá ser consultada on-line. Para mais informações contacte a NAM através do info@nam.org.uk.

Mais cobertura da conferência

Para mais informacões sobre a conferência consulte a nossa página da internet Viena. Pode também acompanhar o nosso Editor Principal Keith Alcorn, no Twitter.

Outros dois parceiros oficiais estão a trabalhar na cobertura e análise da conferência on-line, de modo a que possa ter acesso a toda a informação.  A Clinical Care Options (CCO) irá disponibilizar destaques audio, sumários e apresentacões para download,enquanto a Kaiser Family Foundation irá disponibilizar informações das sessões através da internet.

 Tradução disponibilizada por: 

  GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos VIH/SIDA  

AIDS 2010 conference coverage in partnership with: