Quinta-feira, 23 de julho de 2015

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Estudo da Columbia Britânica salienta a necessidade de grandes melhorias no acesso à terapêutica de substituição opiácea para pessoas que vivem com VIH

Michel Kazatchkine, enviado especial do Secretário-geral das Nações Unidas na Europa de Leste e Ásia Central conversa com Eduard Karamov, do Ivanovsky Institute of Virology, Federação Russa. Fotografia de Marcus Rose©/IAS

Um estudo da Columbia Britânica, província do Canadá, demonstrou que disponibilizar a terapêutica de substituição opiácea (TSO), a par da terapêutica antirretroviral, a pessoas que consomem drogas por via injetada, resulta numa redução significativa de mortes, se comparado com a disponibilização somente de uma das intervenções.

As conclusões foram apresentadas pelo Dr. Bohdan Nosyk e colegas, do University of British Columbia Centre for Excellence in HIV/AIDS, na 8ª Conferência da International AIDS Society sobre a Patogénese do VIH, Tratamento e Prevenção (IAS 2015), em Vancouver.

Uma investigação da Ucrânia, também apresentada na conferência, demonstrou que as pessoas sob terapêutica de substituição opiácea tinham um maior envolvimento  nos cuidados de saúde associados ao VIH.

A terapêutica de substituição opiácea é recomendada pela Organização Mundial de Saúde como elemento fundamental na redução de danos e dos cuidados que devem ser disponibilizados a pessoas que consomem drogas por via injetada, após o diagnóstico da infeção pelo VIH. A nível mundial, existem grandes variações no acesso à terapêutica de substituição opiácea para pessoas que vivem com VIH e que consomem drogas por via injetada: um inquérito conduzido em vinte e um países, publicado em 2013, encontrou uma cobertura média de apenas 3% para esta população.

Muitos países têm resistências em relação à substituição opiácea por se acreditar que a adição à heroína só pode ser tratada através da abstinência. A substituição com metadona é ilegal na Federação Russa, um dos países com uma epidemia de VIH mais grave entre pessoas que consomem drogas por via injetada. A atitude russa para com a metadona é tão rígida que os programas de substituição opiácea na Crimeia foram interrompidos após a ocupação russa da região em 2014, declarou o Professor Michel Kazatchkine, Enviado Especial do Secretário-geral das Nações Unidas sobre VIH/SIDA na Europa de Leste e Ásia Central, numa sessão plenária da conferência.

A Dra. Nora Volkow, diretora do National Institute on Drug Abuse das Nações Unidas, afirmou numa conferência de imprensa que a terapêutica de substituição opiácea é “uma situação vantajosa em termos de prevenção e tratamento, mas existem muitos locais onde isto não acontece… Não conheço outra área da medicina em que, apesar da evidência de que este tipo de intervenção resulta, alguém diz ‘não o iremos implementar pois não é correto’.”

A terapêutica de substituição opiácea pode ser disponibilizada sob forma de dose diária de metadona ou buprenorfina, e está a ser testado um implante de libertação prolongada de buprenorfina com o objetivo de conseguir a aprovação da US Food and Drug Administration (FDA).

A terapêutica de substituição opiácea tem potencial para minimizar os danos associados ao consumo de drogas ao reduzir o risco de overdose, reduzir a exposição a infeções bacterianas e hepatite C relacionadas com o consumo injetado, estabilizar os consumidores de forma a ser possível abordar outras questões de saúde e permitir um tratamento abrangente dos consumos problemáticos. Ao reduzir ou eliminar a dependência de heroína, a TSO reduz o consumo ilícito e tem potencial para reduzir a criminalização dos consumidores de drogas.

Consulte outras apresentações sobre consumo de drogas por via injetada e VIH na IAS 2015 através dos links abaixo.

Início da terapêutica antirretroviral no momento do diagnóstico conduz a supressão do VIH mais rápida em São Francisco

Christopher Pilcher na IAS 2015. Fotografia de Liz Highleymanm hivandhepatitis.com

Estudos demonstram de forma convincente que a adesão precoce à terapêutica antirretroviral melhora a saúde e a possibilidade de sobrevivência das pessoas que vivem com VIH e, em termos de saúde pública, tem o benefício adicional de reduzir a transmissão da infeção pelo VIH. Mas garantir que as pessoas chegam aos cuidados de saúde pode ser um desafio e algumas perdem-se em cada uma das etapas da cascata do tratamento.

De acordo com as conclusões de última hora de um estudo apresentado na conferência, um programa no San Francisco General Hospital, que disponibiliza a terapêutica antirretrovial no momento do diagnóstico da infeção pelo VIH, conduz a uma maior taxa de adesão ao tratamento e uma supressão mais rápida da carga viral, se comparada com as práticas padrão.

As pessoas recentemente diagnosticadas com infeção pelo VIH e os profissionais de saúde mostraram-se entusiasmados com o programa RAPID, que está agora a ser implementado noutros locais da cidade como parte da iniciativa “Getting to Zero”.

Os participantes no programa RAPID atingiram carga viral indetável numa média de 56 dias, em comparação com os 119 dias daqueles que se encontram no grupo de cuidados padrão com terapêutica antirretroviral universal e 283 dias no grupo de tratamento guiado pela contagem CD4. Após três meses sob terapêutica antirretroviral, 75% dos participantes do RAPID atingiram carga viral indetetável, em comparação com 38% nos dois grupos de cuidados padrão. Após seis meses, as taxas de resposta correspondentes eram de 95% vs. 70%.

Estudo de Seattle demonstra potencial para minimizar os danos da infeção pelo VIH em nova geração de homens gay

Imagem da apresentação de Galant au Chan na IAS 2015

A infeção pelo VIH teve um grave efeito geracional nos homens gay e bissexuais sexualmente ativos na década de 1980 nas zonas urbanas da América do Norte, Europa e Austrália.

Uma análise inovadora das tendências do VIH na área de Seattle concluiu que os homens gay nascidos no início da década de 1960 (e que agora se encontram com 50 anos) tinham um risco mais elevado de se tornarem seropositivos.

Aos 30 anos, um em cada cinco homens gay caucasianos contraiu a infeção pelo VIH. Aos 50, tal terá ocorrido com dois em cada cinco. Também existem várias desigualdades raciais. Três em cada cinco homens gay negros desta geração terão contraído a infeção pelo VIH aos 50 anos.

Porém, a situação melhorou consideravelmente para as gerações mais recentes, quer entre a população caucasiana, quer entre a negra.

Ao apresentar os dados na conferência, Galant au Chan, da University of Washington, afirmou que é provável que os resultados não possam ser generalizáveis em todos os Estados Unidos da América.

Seattle tem serviços de alta qualidade e uma população bem informada. O Dr. Chan planeia conduzir análises semelhantes da epidemia noutras zonas do país para comparar resultados.

Prevenção da infeção pelo VIH entre migrantes na Europa

Imagem da apresentação de Julie Pannetier na IAS 2015

Até recentemente, supunha-se que os migrantes africanos diagnosticados com a infeção pelo VIH enquanto viviam em países europeus tinham contraído a infeção antes de migrarem. A maioria vinha de países com prevalências muito elevadas de infeção pelo VIH.

Se a transmissão ocorrer maioritariamente antes da migração para a Europa, a prioridade dos serviços de saúde europeus é rastrear e diagnosticar. Contudo, se a transmissão ocorrer enquanto estes vivem em território europeu, é necessária uma resposta preventiva mais abrangente.

Em França, as pessoas migrantes da África Subsaariana são desproporcionalmente afetadas pelo VIH, compondo até um quarto das pessoas que vivem com a infeção pelo VIH naquele país.

No entanto, investigação apresentada na conferência sugere que entre um terço e metade das pessoas africanas a viver com VIH em França terão provavelmente contraído a infeção após deixarem o continente africano.

O estudo feito com 1031 migrantes africanos sob terapêutica antirretroviral em França usaram os dados de contagem CD4 e histórias de vida para calcular as datas de seroconversão. Os investigadores concluíram que entre 35 e 49% contraíram a infeção pelo VIH após chegarem a França. Os homens, pessoas jovens e aqueles que se encontravam há mais tempo em França tinham uma maior probabilidade de ter contraído a infeção após a migração.

Foram reportadas conclusões semelhantes no Reino Unido, onde os epidemiologistas calcularam que cerca de um terço das pessoas africanas diagnosticadas com a infeção pelo VIH no Reino Unido se seroconverteram após a migração.

O novo INNTR doravirine é tão eficaz quanto o efavirenze, mas tem menos efeitos secundários

Dr. José Gatell na IAS 2015. Fotografia de Liz Highleyman, hivandhepatitis.com

Concluiu-se que o doravirine, um novo INNTR, é tão eficaz quanto o efavirenze na supressão da replicação do VIH. Para além disso, apenas metade dos participantes do estudo que se encontravam a tomar doravirine sofreu efeitos secundários associados à medicação e teve menor probabilidade de interromper o tratamento de forma prematura.

Geralmente, os medicamentos da classe de antirretrovirais inibidores não nucleósidos da transcriptase reversa (INNTR) são eficazes e fáceis de tomar.

O efavirenze (Sustiva® ou Stocrin®, também parte do comprimido de combinação Atripla®) tem sido bastante usado, mas muitas vezes causa efeitos secundários no sistema nervoso central (SNC), como tonturas e sonhos vívidos. Como tal, já não é recomendado para pessoas que estão pela primeira vez sob terapêutica antirretroviral nas orientações para o tratamento nos E.U.A. e Europa.

O Dr. José Gatell, da Universidade de Barcelona, divulgou os mais recentes resultados de um estudo ainda a decorrer que compara o doravirine com o efavirenze, em pessoas que estão a iniciar a terapêutica antirretroviral. As taxas de resposta ao tratamento eram comparáveis em ambos os grupos, mas os participantes sob doravirine tinham metade da probabilidade de interromper o tratamento, quando comparados com aqueles que se encontravam sob efavirenze. A diferença devia-se sobretudo a uma maior taxa de interrupção da terapêutica devido aos efeitos secundários do efavirenze.

Cobertura da IAS 2015 no aidsmap.com

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