| | | Terça-feira, 6 de março de 2018 | |
Anticorpo experimental com um agonista do TLR7 mantem supressão viral em macacos 
Dan
Barouch orador do CROI 2018. Fotografia de Liz Highleyman.
O tratamento com um anticorpo amplamente
neutralizante em conjunto com um fármaco imunoestimulante levou à remissão
viral ao longo do tempo após
a interrupção do tratamento antirretroviral (TAR) num estudo com macacos, de
acordo com os dados apresentados na 25ª Conferência sobre Retrovírus e Infeções oportunistas (CROI 2018) esta semana, em Boston.
O estudo envolveu
macacos rhesus infetados com um vírus hibrido humano-símio conhecido por SHIV.
Durante a infeção aguda, os macacos iniciaram uma combinação de três
medicamentos antirretrovirais. Dois anos após alcançarem supressão viral,
receberam infusões do anticorpo amplamente imunoestimulante PGT121 (cinco
doses, a cada duas semanas) e agonista do TLR7 GS-9620 (dez doses, a cada duas semanas)
ou tratamento placebo. A TAR foi descontinuada/interrompida quatro meses depois
das ultimas doses de PGT121 e GS-9620.
O PGT121 é um
anticorpo amplamente neutralizante que visa o glicano V3 no envelope do VIH e
SIV, um vírus semelhante que afeta os macacos. O GS-9620 é um agonista do TLR7
que estimula os recetores semelhantes das células imunes, parte do sistema imunológico
inato que promove o reconhecimento e resposta aos vírus. A ativação do TLR7
aumenta a atividade das células T, células exterminadoras naturais e outras
células imunes. Esta é uma estratégia “chutar e matar” que tem por objetivo
reativar o reservatório do vírus latente e ajudar o sistema imunológico a atacá-lo.
O tratamento
aumentou substancialmente o atraso e a recuperação do vírus após a
descontinuação/interrupção dos medicamentos antirretrovirais. Os macacos que
receberam o tratamento experimental mantiveram carga viral indetetável sem os
antirretrovirais por uma mediana de 112 dias; cinco dos onze animais tratados
ainda permaneceram com carga viral suprimida no mês seis.
Mesmo depois da
recuperação, os macacos que receberam o tratamento experimental apresentavam
valores de contagem de carga viral inferiores e níveis de ADN viral mais baixos
nos seus gânglios linfáticos em comparação com os macacos que receberam
placebo. Tal sugere uma diminuição no reservatório viral e algum nível de
controlo imunológico do vírus.
Esta é a primeira
evidência de uma estratégia de cura capaz de induzir o controlo imunológico em
macacos. Alcançar um resultado semelhante em seres humanos será um grande
passo/avanço.
O Dr. Dan
Barouch, do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, foi cauteloso na
interpretação dos resultados do estudo. Observou que, mesmo que esta abordagem
evite a recuperação viral durante vários meses, tal não impede a possibilidade
de que o vírus ainda esteja presente e que se possa reativar meses ou até mesmo
anos depois. Até os testes mais sensíveis disponíveis hoje não detetam todos os
vírus latentes, afirmou.
A Gilead Sciences
está a desenvolver ensaios de fase 1 destas combinações.
As mulheres são mais vulneráveis à infeção pelo VIH durante a gravidez e pós-parto 
Renee Heffron oradora do CROI
2018. Fotografia de Liz Highleyman.
Uma análise apresentada no CROI 2018 demonstrou
que as mulheres são quase três vezes mais propensas a se infetarem pelo VIH
durante a gravidez, e
quatro vezes mais prováveis que se infetarem nos seis meses após o parto, em
comparação com o risco de infeção noutros momentos.
Estudos
anteriores sobre esta questão não foram conclusivos: uma metaanálise concluiu
um aumento de 30% no risco de infeção pelo VIH durante a gravidez, contudo,
dois outros estudos sobre essa análise concluíram o dobro do risco, enquanto
outros não concluíram risco elevado.
A nova análise
observou dados de 2 751 mulheres seronegativas para o VIH que tiveram um
parceiro masculino seropositivo para o VIH e que integraram um de dois estudos
sobre prevenção, o Partners in Prevention and Partners PrEP. Os estudos foram
conduzidos em sete países africanos.
As relações
sexuais eram mais ou menos frequentes em diferentes estadios reprodutivos – em
média, mais relações sexuais e mais sexo sem o uso do preservativo durante o
início da gravidez do que quando as mulheres não estavam grávidas e menos
frequente depois e nos seis meses após o parto.
Durante o
acompanhamento, 82 mulheres infetaram-se com o vírus do VIH do seu parceiro
principal, uma incidência anual de VIH de 1,62%. As taxas brutas de incidência
diferiram de acordo com o estadio reprodutivo.
A Dra. Renee
Heffron, da universidade de Washington, calculou então o risco de
infeção pelo VIH por 1 000 atos sexuais. Tal foi estimado para 25 anos,
sem o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP), em que o parceiro tinha uma carga
viral de 10 000 cópias/ml.
- Mulheres
que não estavam grávidas nem em situação de pós-parto: 1,05 infeções por 1 000
atos sexuais
- Gravidez
precoce (0 a 13 semanas): 2,19 infeções por 1 000 atos sexuais
- Gravidez
tardia (14 semanas até ao parto): 2,97 infeções por 1 000 atos sexuais
- Pós-parto
(nascimento até aos 6 meses): 4,18 por 1 000 atos sexuais
As alterações
hormonais durante a gravidez e durante a amamentação podem tornar a infeção
pelo VIH mais provável, mas mais estudos são necessários para que se percebam
os mecanismos. A PrEP pode se recomendada para períodos em que as mulheres
apresentem um risco acrescido de infeção pelo VIH.
Regime de prevenção de TB com duração de um mês é tão eficaz quanto o tratamento de nove meses 
Richard Chaisson orador
do CROI 2018. Fotografia de Liz Highleyman.
O tratamento de um mês com o antibiótico
rifapentina em combinação com isoniazida foi tão eficaz como o tratamento de
nove meses de isoniazida
isolada na prevenção do desenvolvimento de tuberculose (TB) em pessoas que
vivem com VIH num estudo internacional de larga escala.
Apesar de a Organização
Mundial de Saúde (OMS), em muitos países, recomendar a terapêutica preventiva
com isoniazida (ITP) para a prevenção de tuberculose em pessoas que vivem com
VIH, a cobertura internacional é extremamente pobre. A barreira mais comum
citada para o uso de ITP é a duração do tratamento, que pode estender-se por
seis, nove ou até mesmo 36 meses.
O estudo
A5279/BRIEF TB foi desenhado para testar a eficácia da isoniazida e da
rifapentina, administrada diariamente pelo período de um mês, em comparação com
a isoniazida administrada diariamente pelo período de nove meses. As pessoas
que vivem com VIH em locais de elevada prevalência de TB ou com um teste de TB
positivo foram elegíveis para entrar neste estudo multicêntrico, randomizado e
aberto.
Um total de
3 000 pessoas, distribuídas por dez países, participaram no estudo. Metade
dos participantes eram do género feminino, dois terços negros, metade estavam
sob terapêutica antirretroviral, a média de células CD4 era de 470 células/mm3 e um quinto
tinha um teste de pele reativo para TB.
O objetivo do
estudo foi testar a não inferioridade do regime de isoniazida/rifapentina. Os objetivos
primários do estudo eram TB ativa, morte relacionada com TB ou morte por outra
causa.
Um dos objetivos
primários foi alcançado por 32 pessoas
no braço isoniazida/rifapentina e por 33 pessoas que tomaram a profilaxia de
isoniazida. As taxas de incidência global corresponderam a 0,65 vs 0,67
pessoa-ano, sendo demonsrada a não inferioridade do tratamento rápido da terapêutica
de prevenção.
O Professor
Richard Chaisson, da Johns Hopkins University, em Baltimore, afirmou que “Este
regime de 1HP (um mês) poderia drasticamente alterar a prevenção da TB em
pessoas que vivem com VIH. A probabilidade de terminar o tratamento é
extremamente elevada e a probabilidade de prevenir TB é extremamente alta”.
“Os resultados
apresentados são em larga escala e são claros o suficiente para que possam
servir de base para novas recomendações.”
Contudo, as
principais barreiras são os custos do tratamento ($72) e o fornecimento dos
medicamentos (existe penas um fabricante).
Taxa de infeção rápida em homens jovens gays hispânicos nos EUA
Um estudo americano de sequenciação
genética do VIH em redes com taxas de infeção pelo VIH particularmente altas
encontrou as taxas mais altas em grupos que continham mais homens jovens gay, o que não
era inesperado, mas também em mais homens hispânicos que de etnia africana.
Isto pode significar uma mudança na demografia das populações mais vulneráveis
ao VIH nos EUA.
Atualmente o
Centers for Disease Control and Prevention (CDC) analisa de forma sistemática
as sequências de genes dos vírus do VIH em pessoas recentemente diagnosticadas.
Esta análise filogénica permite identificar grupos de infeções - grupos de duas ou mais pessoas cujos vírus
são tão similares que têm de partilhar uma origem comum. Isto permite
identificar grupos que se encontram estranhamente “ativos”, ou seja, onde as
novas infeções são mais frequentes.
Isto permite que
os departamentos de saúde locais intervenham – oferecendo, por exemplo, testes,
ligação aos cuidados de saúde, bem como profilaxia pre-exposição (PrEP).
Ao examinar 60
grupos que envolveram pelo menos cinco novos diagnósticos de VIH em 12 meses, o
CDC verificou que a taxa de transmissão atual era onze vezes mais elevada que a
média de pessoas com VIH nos EUA (44 transmissões por 100 pessoas-ano vs quatro
transmissões por 100 pessoas-ano).
Na base de dados
de sequenciação genética do CDC, os membros destes grupos tinham maiores
probabilidades que outras pessoas de serem homens que têm sexo com homens (HSH)
(83%vs 59%) e idades abaixo dos 30 (70% vs 42%)
Surpreendentemente,
tinham maiores probabilidades de serem hispânicos (38% vs 27%) e menor
probabilidade de serem de etnia africana 31% vs 41%)..
Isto pode indicar
o início da mudança na composição das comunidades com maior risco para a
infeção pelo VIH nos EUA. “Estas descobertas sugerem uma transmissão rápida nas
redes que envolvem jovens HSH, especialmente os jovens HSH hispânicos”, comentou
Anne Marie France do CDC, durante a conferência.
Níveis de medicamento no cabelo predizem resposta ao tratamento para o VIH 
Monica Gandhi oradora
do CROI 2018. Fotografia de Liz Highleyman.
Antiretroviral Os níveis dos medicamentos
antirretrovirais numa amostra de cabelo foram o preditor mais forte da resposta
ao tratamento para o VIH,
segundo um estudo apresentado no CROI 2018.
É do conhecimento
geral que a adesão à medicação é a chave para um tratamento bem sucedido, mas
medir a adesão é um desafio. O auto-reporte dos pacientes é frequentemente
impreciso, enquanto que os testes a amostras de sangue e urina só permitem
saber os níveis antes do teste. Algumas pessoas podem tomar a medicação
inconsistentemente, mas tomar uma dose antes da consulta médica (isto é
conhecido como o efeito da “bata-branca”).
Por outro lado,
os níveis de medicamentos antirretrovirais nas amostras de cabelo são um
reflexo da adesão média ao longo do tempo. É simples recolher e armazenar uma
amostra de cabelo do coro cabeludo.
O estudo ACTG
A5257 comparava regimes de terapêutica antirretroviral que continham
atazanavir/ritonavir, darunavir/ritonavir ou raltegravir, todos com tenofovir
DF/emtricitabina, em pessoas a receber tratamento para ok VIH pela primeira
vez. Foram colhidas amostras de cabelo de 599 participantes no estudo em 2192
visitas.
Foram observados
resultados similares para os três regimes de medicamentos. A taxa de falha
virológica aos dois anos foi de 3% para os que tinham maiores níveis de
medicação, 6% para os que tinham o segundo maior nível, e 26% para aqueles que
tinham o nível mais baixo de medicamento.
Ter cabelos
pintados, esticados ou com permanente não interferiu com os resultados, apesar
de haver pequenas diferenças nos cabelos descolorados. A correlação entre a
adesão auto-reportada e os níveis mesuráveis de medicação nas amostras de
cabelo foi fraca.
Outro estudo
demonstrou que uma abordagem diferente para medir os níveis de medicamento -
que avaliava as alterações na adesão ao longo do tempo através da comparação de
segmentos de cabelo mais próximos do couro cabeludo e dos mais afastados - se
revelou promissora na análise da seroconversão em pessoas que estão sob
profilaxia pre-exposição (PrEP).
Melhoria nos métodos de diagnóstico de TB reduz mortes nas pessoas que vivem com VIH 
Ankur
Gupta-Wright orador do CROI 2018. Fotografia de Liz Highleyman.
O rastreio de tuberculose (TB) e
intensificação do seguimento de casos de TB em pessoas que iniciam a
terapêutica antirretroviral (TAR) e o rastreio com base na urina em pacientes
internados com VIH tem o
potencial de reduzir significativamente as mortes e melhorar as taxas do
tratamento para a TB em pessoas com VIH, segundo os resultados de dois grandes
estudos.
O estudo XPRES no
Botswana tratou-se de uma revisão retrospetiva da implementação gradual do
teste Xpert MTB/RIF, substituindo o exame microscópico no diagnóstico da TB,
porém os investigadores concluíram que uma pacote de medidas para reforçar a
deteção de casos fez a diferença.
O estudo comparava
três intervenções ao longo do tempo, enquanto o teste Xpert MTB/RIF foi ficando
disponível: a descoberta de casos padrão; a descoberta de casos padrão
reforçada (com funcionários adicionais e rastreamento intensificado para
pacientes que falharam as consultas); e a descoberta de casos padrão e o uso do
Xpert MTB/RIF em vez do exame microscópico.
A mortalidade aos
seis meses (o objetivo primário) foi reduzida em ambas as fases reforçadas, mas
só houve uma redução estatisticamente significativa na terceira fase. Os
investigadores procederam a uma análise adicional da mortalidade aos 12 meses.
Esta demonstrou uma redução significativa do risco de morte quer durante a
segunda fase (HR ajustada 0.72) e na terceira fase (0,76), com nenhuma
diferença significativa entre ambas.
Os investigadores
concluíram que o que fez a maior diferença foram os recursos humanos e não o
tipo de teste de diagnóstico a ser utilizado, o que sugere que apesar da rapidez e sensibilidade do diagnóstico
poderem fazer a diferença a curto prazo, as ações dos técnicos de saúde pata
identificar a TB e melhorar a retenção nos cuidados de saúde são importantes.
O segundo estudo,
apelidado de STAMP, foi conduzido na África do Sul e no Maláui. Este confirmou
que os testes de lipoarabinomannan (LAM) de urina melhoraram o diagnóstico de
TB e o tratamento, reduzindo a mortalidade em pessoa sob TAR que tinham sido
admitidas no hospital.
A TB ativa em
pessoas com doença avançada pelo VIH pode ser um desafio para o diagnóstico,
requerendo frequentemente cultura de TB. O teste de urina para o TB-LAM tem o
potencial de acelerar o diagnóstico de TB e o seu uso demonstrou a redução dom
risco de morte dos pacientes hospitalizados com contagem de células CD4
inferiores a 100 cél./mm3. O que não se sabia era se o teste LAM
ofereceria valor adicional em contextos onde o teste Xpert MTB/RIF está
disponível.
O estudo
distribui aleatoriamente pessoas com VIH admitidas no hospital quer para o
diagnóstico padrão (análise de expetoração pela Xpert MTB/RIF) quer para o
braço da intervenção (análise de expetoração pela Xpert MTB/RIF e teste de
urina pela TB-LAM e Xpert MTB/RIF).
A mortalidade
geral aos 56 dias (o objetivo primário) foi de 21.1% no grupo de diagnóstico
padrão e 18.3% no grupo da intervenção, embora a diferença não tenha
significado estatístico (p = 0.07). Foram observadas reduções estatisticamente
significativas na mortalidade me pessoas cujas contagens de células CD4 eram
inferiores a 100 cél./mm3, em pessoas cuja hemoglobina inicial era
inferior a 8g/dl e pessoas com suspeita de TB na admissão.
Os participantes
no grupo de intervenção tinham maiores probabilidades de serem diagnosticados e
tratados para a TB.
Os investigadores
concluíram que o resultados do estudo suportam um uso mais alargado dos testes
para a TB baseados na urina para todos os pacientes internados com VIH.
| | | NAM's news coverage of the 2018 Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections has been supported by a grant from Gilead Sciences Europe Ltd. | |
Acompanhe a NAM pelo Facebook: esteja actualizado com todos os projectos, recentes resultados e novos desenvolvimentos que estão a acontecer no mundo da NAM.
Siga a NAM pelo Twitter para aceder às notícias dos nossos editores, que irão acompanhar os principais temas da conferência à medida que vão sendo divulgados. As nossas notícias têm ligação em www.twitter.com/aidsmap_news e, também, através de mensagens pelo www.twitter.com/aidsmap.
Siga todas as notícias da conferência ao subscrever o nosso formato RSS.