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6ª Conferência da International AIDS Society, Roma, 17 a 20 de Julho de 2011

O tratamento para o VIH É prevenção – redução das transmissões em 96% com o tratamento precoce

Myron Cohen, University of North Carolina ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Os resultados de um grande ensaio clínico que demonstrara que o tratamento para o VIH reduz drasticamente o risco de transmissão foram recebidos com uma ovação de pé n conferência de Roma.

O estudo HPTN 052 demonstrou que o tratamento precoce – iniciado com uma contagem de células CD4 entre as 350 e as 550 – reduziu o risco de transmissão pelo VIH para um parceiro não infectado em, pelo menos, 96%. Quase todos os participantes do estudo eram casais heterossexuais.

O professor Myron Cohen afirmou que: “estes são resultados importantes para comunicar a casais serodiscordantes.”

O debate sobre a infecciosidade de doentes sob terapêutica anti-retroviral teve início com a divulgação da “Declaração Suíça”, em 2008, que afirmava que – em determinadas circunstâncias – as pessoas sob terapêutica anti-retroviral com sucesso não eram infecciosas para os seus parceiros sexuais.

No entanto, foi aconselhada prudência. O professor Cohen relembrou aos delegados que a média de duração do acompanhamento no estudo do HPTN 052 foi de apenas 1,7 anos.

Um total de 28 infecções pode estar geneticamente ligada a um parceiro seropositivo para o VIH inscrito no estudo – apenas um destes ocorreu no braço do tratamento imediato (os participantes no braço do tratamento diferido iniciaram o tratamento apenas quando a contagem de células CD4 desceu para as 250).

A transmissão ocorreu durante as primeiras semanas do tratamento. O parceiro transmissor tinha uma carga viral carga viral de base de 87,202 cópias/ml e, após 28 dias, uma carga viral inferior a 400 cópias/ml.

O professor Cohen afirmou que os casais precisam de aconselhamento sobre as possíveis diferenças de riscos entre os primeiros meses de tratamento e os períodos mais tardios.

Os investigadores calcularam que o tratamento reduziu o risco de transmissão em 96%.

No braço de tratamento diferido, a média da carga viral quando as transmissões ocorreram foi de, aproximadamente, 80 000 cópias/ml.

O tratamento para o VIH É prevenção – A PrEP protege as mulheres da infecção pelo VIH

Michael C Thigpen, CDC e Jared Baeten, University of Washington ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Os resultados de dois estudos sobre Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) demonstram que tomar medicamentos anti-retrovirais pode proteger as mulheres contra a infecção pelo VIH.

Os resultados preliminares de dois estudos – denominados Partners PrEP e estudo TDF2 – foram divulgados na semana passada. Os resultados demonstraram que a PrEP reduziu o risco de transmissão entre 62% e 78%.

A terapêutica foi composta por tenofovir ou tenofovir/FTW (Truvada®), tendo os seus efeitos protectores sido comparados com um placebo.

Os novos dados foram subtilmente antecipados devido a um outro estudo sobre a PrEP em mulheres, o FEM-PrEP, recentemente terminado após se saber da eficácia zero do Truvada® e, tendo sido teorizado que a PrEP oral poderá não resultar nas mulheres, uma vez que a concentração do medicamento no tracto genital será demasiado baixa.

No entanto, os resultados destes dois estudos demonstraram que a PrEP era igualmente eficaz na prevenção de infecções entre homens e mulheres.

Os níveis de adesão ao tratamento foram elevados e o recrutamento no estudo não pareceu aumentar as taxas de práticas sexuais desprotegidas.

Tratamento para o VIH – quando iniciar

Beatriz Grinsztejn, Oswaldo Cruz Foundation, Brazil e Mina Hosseinipour, UNC Project, Malawi ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Os resultados do estudo HPTN 052 demonstram que o tratamento precoce para o VIH reduziu as taxas de doenças graves em cerca de 40%.

No entanto, esta redução foi quase integralmente devida a menos casos de tuberculose extrapulmonar (infecção pela TB exterior aos pulmões, como nos nódulos linfáticos ou nas articulações).

Iniciar o tratamento para o VIH precocemente não reduziu o risco global de morte ou as taxas de infecções bacterianas graves e de TB pulmonar (infecção pela TB nos pulmões).

O estudo HPTN 052 demonstrou que o tratamento precoce para o VIH reduziu o risco de transmissão pelo VIH em parceiros serodiscordantes até 96% (consultar o primeiro artigo).

Os investigadores pretendiam, também, observar que impacto tinha a terapêutica precoce nos resultados relacionados com o VIH. O estudo recrutou participantes em África, Ásia e nas Américas.

Todos os 1 763 doentes tinham contagem de células CD4 entre as 350 e as 550 células/mm3.

Os doentes foram randomizados, ou para iniciar a terapêutica anti-retroviral imediatamente ou para esperar que a sua contagem de células CD4 descesse para um nível inferior às 250 células/mm3 (nível a que o tratamento é recomendado ter início em orientações nacionais relevantes, durante o período de recrutamento para o estudo).

No total, 105 doentes desenvolveram doenças graves, e o risco foi significativamente superior nos doentes do braço onde o tratamento foi diferido.

No entanto, tal deveu-se às taxas mais elevadas de TB extrapulmonar entre os doentes que adiaram a terapêutica.

As taxas de TB pulmonar foram as mesmas nos braços de tratamento imediato e adiado. Ocorreram 16 casos de infecção bacteriana grave nos doentes que iniciaram de imediato o tratamento, em comparação com os 14 casos de doentes que esperaram para iniciar o tratamento.

As taxas de mortalidade também foram comparáveis – 13 doentes que tinham iniciado imediatamente a terapêutica faleceram, em comparação com 10 doentes que tinham iniciado a terapêutica quando a contagem de células CD4 desceu.

Em ambos os braços do estudo, 14% dos doentes tiveram efeitos secundários graves.

Efeitos secundários do tratamento para o VIH – doença óssea

Um grande estudo norte-americano demonstrou que a relação entre o tratamento para o VH e a doença óssea está longe de ser simples.  

Vários estudos demonstraram que as pessoas que vivem com VIH têm um risco superior de desenvolver problemas ósseos, tais como a osteoporose. As causas exactas e as consequências são incertas.

Os investigadores do US Department of Veterans Affairs observaram as taxas de fracturas por fragilidade – da anca, punho e vértebras inferiores – em mais de 56 000 pessoas seropositivas para o VIH entre 1988 e 2009. 

Concluíram que havia um grande aumento na incidência das fracturas após 1996, quando o tratamento eficaz para o VIH foi disponibilizado.

Os factores de risco tradicionais associados às fracturas de fragilidade – como idade avançada, fumar, diabetes e co-infecção pelo vírus da hepatite C – eram todos factores de risco importantes para este grupo de pessoas.

Na realidade, os investigadores pensam que o aumento da incidência das fracturas após 1996 pode ser, simplesmente, devido ao facto de as pessoas com VIH terem vidas mais prolongadas.

Contudo, quando restringiram a sua análise às pessoas que receberam cuidados de saúde na era do tratamento, concluíram que o tratamento com o tenofovir (Viread®, também nas formulações combinadas Truvada® e Atripla®) constituía um factor de risco para as fracturas, bem como a terapêutica efectuada com o inibidor da protease lopinavir/ritonavir (Kaletra®).

Os resultados demonstraram que cada ano de tratamento com tenofovir, aumentou o risco de fractura em aproximadamente 12%.  

Usar o tenofovir e o Kaletra® na mesma combinação aumentou ainda mais o risco de fracturas. Contudo, os investigadores salientaram que o risco associado a estes medicamentos era mínimo, quando comparado com aqueles associados aos tradicionais factores de risco.

De facto, eles ainda não estão convencidos que a terapêutica anti-retroviral fosse uma das maiores causa de fracturas, comentando que:”a exposição cumulativa à terapêutica anti-retroviral, provavelmente, não deve ser levada em consideração para o aumento de risco na era da HAART.”

Ligação entre doença cardiovascular e perda óssea

O endurecimento das artérias é acompanhado pela perda de massa óssea nas pessoas que vivem com VIH.

Investigadores italianos concluíram que a calcificação da artéria coronária – um sinal de aviso precoce de doença cardiovascular – foi associada à perda de massa óssea na anca.  

O estudo envolveu 812 pessoas que recebiam cuidados de saúde entre 2006 e 2010.

Concluíram que o endurecimento da artéria coronária foi associado a alguns factores de risco tradicionais, como por exemplo, fumar, diabetes, pressão alta e idade avançada.  

A perda de massa óssea na anca foi observada em 22% das pessoas com evidência de calcificação na artéria coronária e em 15% destas pessoas que não tinham o endurecimento desta artéria.

Uma série de análises estatísticas concluiu que um número de factores de risco foi associado à calcificação da artéria coronária e à perda de massa óssea no quadril – estes incluíram factores de risco tradicionais e alguns associados ao VIH, como a contagem de células CD4, carga viral  e tratamento com alguns medicamentos anti-retrovirais (como por exemplo, o tenofovir).

Os investigadores enfatizaram que as alterações no estilo de vida, como o exercício físico regular, uma boa dieta e parar de fumar podem reduzir tanto os problemas cardiovasculares como os ósseos em doentes que vivem com VIH.

VIH e saúde sexual – vaginose bacteriana e o risco de transmissão

Imagens da apresentação por Craig Cohen, da University of California, em San Francisco

Segundo um estudo apresentado durante a conferência, uma mulher seropositiva para o VIH tem um risco superior de transmitir a infecção pelo VIH ao seu parceiro sexual caso tenha vaginose bacteriana.

A vaginose bacteriana (BV, em inglês) é uma condição que ocorre quando o equilíbrio normal de bactérias na vagina é interrompido. Tal, pode resultar no crescimento em excesso de algumas bactérias, que poderá ser acompanhado por sintomas como corrimento, comichão e dor. Pode, algumas vezes, causar doença inflamatória pélvica e levar a problemas de fertilidade e durante o parto.

Estudos anteriores já tinham demonstrado que ter BV aumenta o risco de uma mulher ser infectada pelo VIH.

Agora, os investigadores concluíram que um homem, numa relação com uma mulher seropositiva para o VIH, tem um risco três vezes superior de contrair o VIH através da sua parceira se esta também tiver vaginose bacteriana.

A carga viral no trato genital foi superior em mulheres com BV, contudo, os investigadores não pensam que tal explique o aumento do risco de transmissão da infecção.

Mais, sugerem que os níveis normais de bactérias vaginais podem matar o VIH, reduzindo a proporção de vírus que é infecciosa. 

Os investigadores pensam, também, que a BV pode, indirectamente, aumentar a susceptibilidade do parceiro masculino em relação ao VIH. Observam que os parceiros sexuais mais antigos partilham a flora genital, e que os homens adquirem bactérias das suas parceiras. Sugerem que as bactérias podem activar as células de Langerhans e as células CD4, tornando-os mais susceptíveis à infecção pelo VIH.

Colore locale

Filippo von Schloesser ©IAS/Marcus Rose/Worker's Photos

Caspar Thomson, o Director Executivo da NAM, esteve com o líder comunitário local, Filippo Von Schloesser. Consulte o nosso site para ler o blogpost do Caspar sobre o VIH na Itália, a história de Filippo e a Declaração de Roma.

Em relação à declaração, Filippo afirma que “Eu nunca assisti a nada como isto na história do VIH, em Itália.”

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